Troco a estação do rádio, não tem merda nenhuma que preste, vasculho
no porta luvas algum CD que vala. Encontro o Mardi Gras do Creedence, e boto no
ultimo volume. A adrenalina está alta nessas curvas e o som ajuda. Dá um
tempinho para olhar o céu bem azul, talvez eu esteja vivendo os últimos bons
momentos da minha vida.
Olho as árvores e o campo passarem bem rápidos ao meu lado,
me lembro do filme Vanishing Point, de 1971, com o Barry Newman, em que no
final o cara está na mesma situação que eu, ou melhor, eu é que estou na mesma
situação que ele, pois ele é bem mais velho que eu. Enfim, o cara está
dirigindo um Dodge Challenger, fugindo de tudo, da polícia e dele mesmo e o
caralho, e tem uma cena ótima em que aparece uma loira linda totalmente nua pilotando
uma motocicleta, e tem o Super Soul, um radialista fudidaço que “acompanha” o
cara via rádio. E no final a policia bloqueia a estrada, mas ele não desiste, parte
para cima e acaba com tudo; e morre.
Falta bem pouco para eu chegar ao fim da minha estrada, pode
ser o fim mesmo, ou pode se abrir outros caminhos. Na verdade não penso muito
nisso, agora mesmo estou pensando na garota da foto que está pregada no painel poeirento
do carro, faz tempo que não tenho notícias dela, faz tempo que a gente se
separou; mas eu não esqueci de seus olhos apaixonantes e pele macia. Tomara que
ela tenha me esquecido, para não sofrer tanto com essa situação que me meti.
Aha ha, alí está o bloqueio dos putos. Vamos lá, pé na tábua,
mãos firmes, olhos atentos e um sorriso na cara. O carro voa a mil. Engraçado é
que começa a tocar Someday Never Comes; cara, meu final vai ser lindo.
Trailer Vanishing Point: