domingo, 22 de abril de 2012

Cliente

  O maluco Fred “mãos de cinzeiro” martelava o piano num ritmo frenético que fazia até o gato maltrapilho e fedorento que rodeava as mesas do saloon dançar. Klap klap klap, ding ding ding. Cantava alguma coisa parecida com isso:

Meu caro garçom,
Cuide bem desse cliente.
Qual mesa prefere?
Nada perto da porta,
Pois quem senta perto da porta
Nunca descansa suas ancas.

  Klap klap klap, ding ding ding. Todos, sem exceção, bebiam altos canecos de cerveja quente, que vinham em barris pelo rio. Risos e gargalhadas espalhafatosas eram estouradas pelas mesas redondas e quadradas espalhadas sobre o chão oco de madeira. Há um mito de que debaixo das carcomidas taboas do chão o velho avô do novo dono do local, Manuelson “barril selvagem”, havia escondido a melhor garrafa da melhor cerveja já fermentada, mas como isso já fazia muito tempo, o pessoal nem se dava ao trabalho de procurar, pois já devia estar azeda.
  Uma gorda e bonita prostituta dançava enfaticamente sobre uma mesa. Seus melões balançavam para cima e para baixo e vez em quando saltavam para fora de seu corpete vermelho, fazendo os velhos bêbados darem urros de alegria. Foi engraçado quando ela tentou saltar de uma mesa para outra e caiu feito uma moranga madura bem em cima do senhor Austarie; ele teve que sair carregado para fora do saloon, para tomar um ar fresco.
  Caras enrrugadas e barbadas compridas e brancas eram constantes, mas nunca se deve esquecer que as mulheres bonitas e os rapazes bem afeiçoados também são loucos por uma diversão em um saloon tão divertido como esse. Isso os mais inteligentes, claro. Os outros preferem ouvir uma bola de canhão ronronar. Esses jovens também bebiam pulavam e dançavam, e os mais românticos pagavam bebidas e conversavam coisas de jovens com as garotas.
  O gato subiu em cima do balcão e foi enxotado pelo pequeno Nedie “vacilo”, que desastrosamente derrubou um caneco cheio sobre alguns clientes. Todos riram, todos, sem exceção. E o piano mais do que nunca vibrava sob as “mãos de cinzeiro.