quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Chico Bacon

Tiras do personagem Chico Bacon, criadas pelo super Caco Galhardo:





Mas minha versão é muito melhor:

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O trilho

Passou por mim um homem de chapéu, passou uma mulher de vestido amarelo segurando uma menininha, de cabelos louros cacheados, pela mão. Passou também um garoto correndo, levantando poeira. Estava um tempo seco. O vento trazia partículas de terra e areia para dentro da estação. O banco em que eu sentava acumulava sujeira. Mas eu não me importava.
Chegou mais um trem; e a cada trem eu via meu tempo esgotando.
No chão ao me lado tinha um gato encardido. Já nem lembrava quanto tempo ele estava ali. Hora ele deitava e dormia, hora sentava sobre as patas traseiras e ficava atento ao mundo. Eu não gostava de gatos.
Anos, meses ou dias antes, num dia chuvoso, o melhor dia da minha vida até agora, ELA apareceu, Bella apareceu e me disse para segui-la. Então seguiu caminhando pelos trilhos. Foi impossível eu segui-la naquela hora, pois era ELA, e eu, uma gota da chuva, ou uma partícula de poeira. Eu precisava ver mais trens passarem para poder acompanhá-la; mas até quando esperar?
Don´t think twice, it´s all right. Disse o gato ao meu lado.
E então eu levantei, sacudi a poeira e deixei o gato par trás. Começou aí minha caminhada pelos trilhos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O trem

O barulho de passos chapinhando na água me trouxe de volta a realidade; era ELA, era Bella.
No banco em que eu sentava, a umidade havia tomado conta da madeira, mas eu não me importava. O que acontecia a minha volta, as pessoas passando com pressa, o barulho do trem, a chuva que caía, não me importava. Eu estava na ponta da prancha, absorto pelo horizonte reto, perfeito, extremamente perpendicular ao céu de azul impecável. Tão absorto que estava prestes a cair em meio aos tubarões, para ser dilacerado por presas poderosas.
Ao meu lado, um mendigo maltrapilho esmolava, estendendo sua mão enrugada até quase alcançar o teto da estação, mas as pombas doentes não lhe davam moedas.
Estranho, imagine, eu percebia tudo o que acontecia por ali, só não participava desse mundo, estava apenas como se fosse um observador imparcial.
Mais um trem. Mais pessoas devorando pessoas. O cheiro de óleo queimado. As poças de água no chão aumentando devido a chuva forte. Eu só tinha que esperar, tinha que ter esperança; e isso eu tinha.
E então, depois de ouvir mais um estrondo de trovão, depois de ouvir mais um trem chegar e partir, depois de ouvir mais um pensamento ecoar, eu ouvi o barulho de passos chapinhando na água. Era ELA, era Bella.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Everest

- Ontem a noite sonhei que escalava o Everest.
- E aí?
- Na etapa final, eu fiquei sem ar, escorreguei e caí montanha abaixo. Antes de topar com as pedras, acordei.
- Hum.
- Só peguei no sono novamente depois de ler umas páginas daquele livro que você me emprestou. Muito bom, por sinal.
- Sim.
- Só acordei quando o relógio despertou. Senti sua falta ao meu lado, mas foi só por um instante.
- Ahn?
- Percebi o porquê de eu não desejar mais ficar com você. Eu conto todos os meus sonhos, meus medos e aventuras do dia a dia. Você é fechada, calada; difícil de escalar, como o Everest.
- Ok.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu, desumano

Eu que já caminhei pelos vales da sombra e da morte, que já me deitei com pesadelos inomináveis, que já nutri rancores pelo seio da humanidade.
Eu que já derramei o sangre negro da impunidade, que já sangrei medos e conspirações pelo ânus.
Eu que já vi assaltarem os sonhos.
Eu que já vivi a pior vida existente, agora encontro a redenção neste copo a minha frente.