segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sangue Navajo

Noite, num bar, rock´n´roll, cervejas e uísques, na mesa de sinuca eu e mais três amigos disputávamos um jogo longo, melhor de treze. O pano da mesa não era verde, era vermelho, e o dono do bar não deixava apoiar o copo na borda.
Um dos caras estava olhando para o pano, até alisando, e disse:
- Caras, eu curto quando a mina tira a roupa e tem uma calcinha dessa cor, bem vermelha.
- Eu também curto, mas tem que ser bem pequena.
- Fio dental?
- É, fio dental é legal.
- Pra mim tanto faz, vai tirar tudo mesmo, eu quero é ver logo a perseguida.
- É verdade, por mim, elas nem precisavam usar calcinha, hahaha.
Eu já estava bêbado e ouvindo os três falarem sobre aquilo me deu um cansaço, pois tinha uma opinião totalmente contrária à deles e eu não estava para discussões essa noite, mas daí um cara voltou ao velho e já mais do que passado assunto da calcinha bege.
- E quando você tira a calça da mina e vê que ela está com uma calcinha bege? Broxo na hora.
Os três concordaram rindo a beça. E eu fiquei remoendo o comentário do cara, porque sabia que ele não comia ninguém e que daria tudo para aparecer uma mulher com uma calcinha de qualquer cor na sua vida.
- É, parece que elas pegaram emprestadas as calcinhas das avós!
Era minha vez de jogar, consegui matar uma bola de dificuldade razoável, e depois outra fácil, mas errei feio na terceira. E então disse para eles:
- Caras, eu gosto de todas, sem brincadeira. Cada uma tem sua peculiaridade, sua beleza, não importa a cor, tamanho ou formato. Mas o que importa mesmo é a mulher que está vestindo e o tesão que você sente por ela, daí sim a trepada vai ser boa para os dois. Vou ali pegar outro uísque, se chegar minha vez de jogar me dá um toque.

sábado, 28 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Eu nunca andarei sozinho, e você?

A tempestade se aproxima rápida e me engole de tal forma que fico desnorteado e sem rumo. A escuridão é enorme, as fortes gotas de chuva e o vento implacável quase me levam ao chão. Coloco a mão ao meu peito e sinto a frieza da medalha que está pendurada ao meu pescoço por uma corrente, dada pela mulher amada. Aperto a medalha com toda a força que me resta, ela me faz lembrar dos tempos de sol e calor, me faz lembrar dos motivos pelos quais tenho que continuar em pé e lutar, ela me faz lembrar da esperança. Então levanto a cabeça e encaro as intempéries de frente, sem medo do que esta por vir, sem medo do escuro.
Sei que a frente um céu dourado me espera, eu preciso apenas me manter de pé e caminhando. Todo o sofrimento é momentâneo e preciso seguir em frente para que venham novos dias gloriosos, para que eu possa novamente ouvir o doce e prateado canto da cotovia.
Eu ando através da tempestade, através dos ventos, vejo raios formidáveis rasgarem os céus, e ainda assim eu vejo meus sonhos se tornarem realidade, pois mesmo sem ninguém ao meu lado, eu nunca andarei sozinho. Eu me sinto abraçado pela tempestade, mas sinto muito mais a presença bela e reconfortante da minha amada ao lado, e isso me faz continuar andando.


You'll Never Walk Alone, Gerry & The Pacemakers:



segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Sonhos

Primeiro sonho: As pernas

Sinto-me flutuando, toco o chão por pequenos momentos apenas para pegar mais impulso. É um esforço imenso, mas mantenho o sorriso no rosto. Estou suada, mas meu doce perfume se espalha ao redor ao dar meus giros. O cansaço é imenso, mas de alguma forma consigo reunir uma força sobre-humana que me dá disposição para continuar dançando por horas e horas. Por segundos consigo vislumbrar a plateia atenta a meus passos, é minha motivação para dar saltos cada vez mais altos, fazer movimentos cada vez mais suaves e precisos. Eles observam minhas pernas torneadas cobertas por uma meia calça fina e branca, e como um bater de asas elas cintilam pelos ares, e eu flutuo.

Segundo sonho: A dama de verde

Estou preso em uma cruz, braços e pernas amarrados com laços fortes, mas estou lúcido e com medo da tortura que está por vir. Está escuro, só algumas luzes bruxuleantes surgem das trevas. Ouço passos, acho que é uma mulher, pois é um barulho e saltos altos que avançam fortemente em minha direção. Ela aparece, sua beleza ofusca meus olhos, tem cabelos e olhos negros, um nariz pontual e uma boca pequena e perfeita, por um brevíssimo tempo eu penso que ela é frágil, mas ledo engano, ela emana uma força descomunal. Está trajando um vestido verde cintilante, com caimento perfeito para seus seios e quadril, seu corpo é fantástico, suas curvas são deslumbrantes, vejo também que suas unhas estão pintadas de verde, e que também suas delicadas e poderosas mãos seguram um cálice com um líquido da mesma cor, talvez algum veneno poderoso preparado para mim. Eu estou nu, ela observa minha ereção com um olhar de desdém, mas ela lambe os próprios lábios com sua língua úmida e macia. Aproxima-se para bem perto de mim e crava suas unhas em meu peito como se fossem garras de tigre e vai descendo e rasgando minha pele, o ardor é terrível e lágrimas surgem em meus olhos.

Terceiro sonho: A cereja

Entro no quarto, ela está me esperando na cama apenas de calcinha e com uma deliciosa cara de malícia. Vou tirando minha roupa bem devagar para deixa-la com mais vontade e me debruço sobre seu corpo. Ela abre a boca e me mostra uma cereja pousada em sua língua. Pego a cereja com minha boca e depois com a mão, e então começo a brincar com ela passando lentamente sobre seu mamilo direito, enquanto chupo com muita calma seu mamilo esquerdo. Ela geme muito gostoso e me deixa super excitado. Eu retiro sua calcinha com os dentes e rolo a cereja por sua virilha e depois a deixo pousada em seu clitóris. Eu digo que é uma das mais belas imagens que já vi em minha vida, ela ri. Depois começo alisar sua vagina com minha língua e ela revira os olhos e emite sons que soam como uma ópera suave. Já quase não aguentando mais de prazer eu coloco a cereja em minha boca e vou até a boca dela, ela morde uma metade e eu fico com a outra, depois começo a penetra-la e tremendo e gemendo gozamos juntos.

Quarto sonho: Os garotos

Somos três e estamos andando pelas ruas a noite, assim como as antigas gangues, estamos em formação de “V”, eu na frente e meus dois chapas atrás. As pessoas saem da frente ao nos ver passar. Talvez por sermos jovens e feios demais, ou por terem medo das nossas jaquetas rasgadas e tatuagens cobrindo os braços. Tentamos ser maus arranjando briga com outros caras, e nesse momento estamos indo acertar uma conta com um pessoal de outro bairro. Eles devem estar nos esperando com um maior numero de pessoas, mas nos somos destemidos e meu amigo Jones a minha esquerda sabe lutar boxe como um profissional, não é fácil derruba-lo. A minha direita tem o Stalinski, que sabe manejar um canivete e tem um bem afiado em sua cintura. Já eu não tenho nenhum talento especial, mas eu sou persistente e não desisto de uma briga até que eu esteja inconsciente. Vamos assim para nossa batalha.

Quinto sonho: Duas cabeças

Começo a tomar consciência de mim mesmo vagarosamente. Primeiro percebo que não vejo apenas com os olhos, eu vejo com a cabeça toda, com uma visão de 360°, mas não consigo me mexer. Sinto que meu rosto é duro e que tem algo apoiado em cima da minha cabeça. Começo observar ao redor: para trás há um pequeno salão com algumas gôndolas com os mais diversos tipos de alimentos expostos, a maioria são doces caseiros que me parecem deliciosos. Acho que é uma loja, um pessoal anda por ali. Ao meu lado há uma cabeça de porcelana de uma dama muito bonita, ela me parece um tanto árabe, ou turca, seu rosto é pintado de branco, menos os lábios que são vermelhos e os olhos que são azuis. Seus cabelos também são azuis com uns adornos dourados. Em cima de sua cabeça há uma tigela com umas maçãs bem vermelhas. Ela parece me notar. À frente consigo observar uma rua movimentada, pelo estilo dos carros e das pessoas parece que estou na Inglaterra. Separando-nos da rua percebo que existe um vidro, nele consigo ver meu reflexo, eu também sou uma cabeça de porcelana, mas ao contrário da dama ao meu lado eu sou uma cabeça masculina, tenho um farto bigode e uma sobrancelha grossa, e em minha cabeça tem uma tigela com bonitas peras verdes. Gosto de observar as pessoas nos olhando e tirando fotos.

Trailer de Sonhos, de Akira Kurosawa:

sábado, 7 de setembro de 2013

Vontade

- Vontade – Ela disse ao meu ouvido.
Eu abri um sorriso, sabia do que ela estava falando, um pouco mais tarde estaríamos entrelaçados com os corpos nus como se fôssemos um só, ofegantes, suados e exaustos.
- Também estou com muita vontade.
Mas não era apenas isso, a vontade que vinha de dentro era muito maior que apenas satisfação física, a vontade era de se derreter nos olhos dela, ficar observando cada detalhe do seu lindo rosto, acariciar cada centímetro do seu corpo quente e macio, sentir sua respiração em sintonia com a minha. A vontade era de encostar meus lábios em seus lábios e sentir toda a ternura que provem deles, acariciar sua língua úmida e gostosa com a minha língua e depois deslizá-la para seu pescoço e ouvir seus gemidos como se fossem uma sinfonia. A vontade era de entrar em seu corpo e sentir tudo o que se passa por ele, era de se conectar em pensamentos e saber exatamente o que queríamos; e a vontade era infinita.
Era nisso que eu pensava ao ouvi-la sussurrar essa palavra, e acredito que era isso que ela queria dizer.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

As vinte e quatro horas

8h00 - Fome
9h00 - Disposição
10h00 - Concentração
11h00 - Desconcentração
12h00 - Paz
13h00 - Desânimo
14h00 - Descaso
15h00 - Alerta
16h00 - Força
17h00 - Fôlego
18h00 - Descanso
19h00 - Pensamento
20h00 - Depressão
21h00 - Raiva
22h00 - Rancor
23h00 - Insônia
24h00 - Abatimento
0h00 - Nervosismo
1h00 - Sono
2h00 - Sonho
3h00 - Vontade
4h00 - Luxúria
5h00 - Desligamento
6h00 - Lágrima
7h00 - ESPERANÇA

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A árvore e o pau

- Vamos plantar essas cinco mudas na beira do morro, perto do correguinho. Coloca elas num balde, vai na frente para abrir o portão.
- Ok, e são mudas de que?
- Essa três são de coquinho, sabe aqueles coquinhos que os saguis vem comer?
- Sei.
- Essa aqui é de ingá.
- Ah, já ouvi falar.
- E essa outra chama guanandi.
- Como é o nome?
- Guanandi.
- Fica grande, ela vai conseguir crescer ali, com todos aqueles bambus fazendo sombra?
- É uma árvore de mato, ela cresce no meio das outras árvores, é acostumada ficar na sombra quando é pequena. O tronco dela cresce reto, para ela buscar o sol em cima das outras.
- Entendi.
- Conhece algum outro pau que cresce reto?
- Eu citaria o meu, mas ele é um pouco torto para a esquerda, haha, mas está sempre querendo alcançar o sol.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O índio Dança Maluca

Eu não sei dançar, mas gostaria; não seguindo regras e técnicas, fazendo tudo mecanicamente perfeito, apenas gostaria de ouvir uma música agitada e efervescente e me mexer de forma louca e descoordenada. Mas dançar sozinho em um quarto solitário é deprimente, e dançar que nem um louco em uma festa de casamento é vergonhoso, por isso resolvi me internar em um hospício.
Fiquei sabendo que nesses lugares em alguns dias do mês eles dão um tipo de festa para os internos, tiram todas as cadeiras do salão, botam uma música e aí é cada um por si, você pode ficar em um canto, pode ficar comendo, pode arrumar uma gata louca para tentar uma trepada ou pode ficar dançando do jeito que quiser sem que ninguém te importune.
Mas eu não quero simplesmente me internar em um hospital psiquiátrico, isso não em graça, eu quero é ser internado, quero ser considerado louco, e para isso iniciei um plano que durou sete anos até eu conseguir minha dança maluca.
Primeiro eu precisei ser preso em uma cadeia comum e para isso tentei assaltar uma joalheria, e para já parecer meio maluco eu fui armado apenas com um taco de beisebol e uma máscara do Batman. Após anunciar o assalto comecei a quebrar tudo, até mesmo a cara dos funcionários que caiam ao chão, ensanguentados em sem dentes. Depois, ao pegar e engolir algumas joias não fugi, apenas fiquei ali parado esperando a polícia me prender.
Após isso e depois de muita burocracia, finalmente fui enviado para trás das grades e aí comecei a realmente me portar como um louco. Ninguém aguentava ficar comigo na cela por muito tempo, eu não os deixava comer e dormir e era bruto com eles, eu brigava com todos, até com os carcereiros; e era mandado para a solitária muitas vezes. E repetia tudo novamente. Quando viam que eu era incorrigível, me moviam para outra prisão, e fui ficando cada vez pior até que um dia finalmente me consideraram um incapacitado mental e me encarceraram em um hospício.
Foi um dos dias mais felizes da minha vida quando anunciaram que haveria uma festa na próxima sexta-feira, e como eu estava me comportando a meses, não ficaria algemado, e eu finalmente poderia dançar.

Trailer de Bronson:

 http://www.youtube.com/watch?v=GMJ1c3qxOWc

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cadeira, cama e janela

Algumas vezes eles colocavam sedativos na comida para que eu dormisse, mas depois de alguns meses eu já conseguia perceber quando a comida estava alterada e me recusava a comer. Então eles instalaram tubos em meu quarto por onde saia um gás que me adormecia, só que eu descobri com o tempo a localização deles e os obstruía. Por fim, depois de alguns anos eles simplesmente entravam em meu quarto, que na realidade era uma prisão, em três ou quatro brutamontes, me seguravam e aplicavam uma injeção.
Toda vez que eu acordava, depois de ser dopado, eu estava sentado em uma cadeira parafusada ao chão com meus pés e mãos amarrados firmemente. À minha frente ficava uma cama com um lençol vermelho e em cima da cama uma mulher; toda vez uma mulher diferente. Não sei se eram prostitutas, atrizes contratadas ou mesmo mulheres fazendo isso apenas por diversão, nunca soube da verdade.
Enquanto eu estava amarrado, a mulher começava a se despir vagarosamente, em movimentos sensuais, elas geralmente vestiam roupas justas com decotes enormes e minissaias, exibindo seus belos seios e coxas bem servidas de carne. Por baixo usavam lingeries ousadas de diversas cores e estilos. Depois de toda roupa tirada elas começavam a se masturbar, cada uma a sua maneira e posição. Umas começavam a acariciar os peitos e depois desciam vagarosamente para suas vaginas e em movimentos contínuos da mão gemiam de prazer até se esbaldarem, outras chupavam os próprios dedos enquanto brincavam com o clitóris, algumas até trocavam as mãos pelos pés para se acariciarem. Isso tudo durava de quinze minutas a meia hora. Mas nesse meio tempo todas me ignoravam por completo, nenhuma nunca me olhou nos olhos ou falou comigo, como se eu não estivesse ali, agiam como se fosse normal se masturbar na frente de um estranho amarrado em uma cadeira.
Na primeira vez que isso aconteceu, quando acordei nessa situação, fiquei confuso, com medo, não sabia o que ia acontecer, eu achava que a mulher ia me matar ao final de toda a encenação, achava que era um jogo sádico em que eu acabava sendo estripado no fim. Mas nada aconteceu. Quando a mulher terminou seu serviço, ela simplesmente se vestiu e saiu por uma porta a direita, por onde depois entraram três ou quatro brutamontes para me desamarrar e arrastar por uma porta a esquerda, de volta a prisão do meu quarto. No início, quando isso começou a se repetir, eu tentava de todas as maneiras falar com elas, pedia ajuda, explicava a minha situação de prisioneiro, perguntava o porque de eu ter sido preso e estar acontecendo tudo isso, mas elas simplesmente me ignoravam. Eu berrava e chorava, tentava ser humilde, tentava ser odioso, tentava ser generoso oferecendo dinheiro para me tirar dali ou mesmo para que me dissessem uma única palavra, mas elas sempre me ignoravam.
Depois de algum tempo percebi que essa cena se repetia em intervalos irregulares, talvez para que eu não pudesse estar preparando alguma coisa, para que eu não estivesse planejando nada fora do plano bizarro deles. Quando eu achava que acabaram as seções, lá vinham eles com a comida com sonífero, com o gás ou com a injeção.
Por um período de tempo, após desistir de tentar me comunicar com elas e perder a esperança de sair dessa situação, eu comecei a ficar excitado ao vê-las gemendo de prazer na minha frente, comecei a deseja-las, comecei a salivar e babar, meu pênis ficava tão rígido que quase rasgava minhas calças, comecei a torcer para que a próxima seção começasse o mais breve possível; e comecei a perder minha sanidade nesta época.
Perdi a conta dos anos que se passaram na minha prisão, talvez foram apenas quatro, cinco ou seis, mas pode ser que sejam dez ou até mesmo doze. A rotina sempre era a mesma, refeição a cada três horas durante o dia, dez horas de sono durante a noite, toneladas de livros e revistas antigas para ler, uma televisão que passava um filme por dia, escolhido por eles, um quarto com um banheiro e sem janelas e as seções das mulheres se masturbando.
Com o passar do tempo minha excitação pelas mulheres foi diminuindo e eu comecei a xingá-las e ofendê-las, não ia mais sangue para o meu pênis, o sangue ia direto para meu cérebro e eu ficava com raiva, eu tremia de raiva ao vê-las todas com as mãos molhadas mexendo suas genitais. Incontrolavelmente eu me debatia na cadeira urrando palavras cruéis e cuspindo injúrias as suas vaginas.
Depois minha raiva se tornou um ódio silencioso, que crescia de forma descomunal, eu me transformei em puro ódio.
Eles sabiam o que me tornei, pois num dia em que acordei na cadeira, percebi que não estava preso, e percebi que meu único instinto era me levantar da cadeira e estrangular a mulher que estava na minha frente. Foi o que eu fiz, e foi a única vez que a mulher da cama olhou para mim; claro que com olhos de desespero. Desde o início esse era o plano deles.
Na próxima vez que acordei, percebi que estava em um quarto diferente, era bem maior que minha prisão, havia mais móveis, um rádio, cama imensa e uma janela. Olhei por ela e o sol me cegou por uns instantes, há anos não sentia tanta luz e calor sobre mim. Eu estava confuso, mas percebi que estava em um quarto de apartamento, pois pela janela eu via a rua a muitos metros abaixo. De repente comecei a ouvir a porta sendo destrancada e por ela entrou uma mulher, já de meia idade. Imediatamente minha cabeça ficou pesada e meus olhos ficaram cegos, senti meu sangue fluir efervescente por todo meu corpo. A mulher estava confusa, tentava dizer e gritar comigo alguma coisa enquanto eu me aproximava dela como um maníaco. Eu agarrei seu pescoço e a levei ao chão, ela se debatia e tentava me arranhar até que começou a ficar roxa e com os olhos esbugalhados, então senti seus ossos se quebrarem em minhas mãos e ela parou de se mexer.
Eu me afastei e sentei na beirada da cama, ofegante, e estando ali alguma lucidez começou a voltar à minha cabeça, eu olhei para a mulher morta e comecei a reconhece-la de um passado distante, comecei a ficar realmente desesperado quando percebi que ela havia falado meu nome, antes de eu estrangula-la, e fiquei em choque quando descobri que havia matado minha própria esposa. Esse era o plano afinal, eu matar minha própria esposa, matar a única pessoa no mundo que eu realmente amava, a mulher que eu daria minha vida em troca. Eu paguei por um pecado antigo tirando a vida da minha única razão de viver. A dor que eu sentia nesse momento era algo imensurável, algo que eu não podia suportar. Com o pouco de força que me restava levantei e me arrastei até a janela, consegui abri-la e num impulso saltei para fora, e enquanto caia pensava que essa morte era boa demais para uma pessoa como eu.

Levemente baseado em: http://www.youtube.com/watch?v=2HkjrJ6IK5E
e em: http://www.youtube.com/watch?v=Tcl2hnhze3E

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Bloqueio

O cara do rádio acabou de avisar que bloquearam a rodovia a cinco quilômetros de onde estou agora, e pelo que conheço desse pedaço, não há outras saídas a frente, então piso mais no acelerador e que se foda.
Troco a estação do rádio, não tem merda nenhuma que preste, vasculho no porta luvas algum CD que vala. Encontro o Mardi Gras do Creedence, e boto no ultimo volume. A adrenalina está alta nessas curvas e o som ajuda. Dá um tempinho para olhar o céu bem azul, talvez eu esteja vivendo os últimos bons momentos da minha vida.
Olho as árvores e o campo passarem bem rápidos ao meu lado, me lembro do filme Vanishing Point, de 1971, com o Barry Newman, em que no final o cara está na mesma situação que eu, ou melhor, eu é que estou na mesma situação que ele, pois ele é bem mais velho que eu. Enfim, o cara está dirigindo um Dodge Challenger, fugindo de tudo, da polícia e dele mesmo e o caralho, e tem uma cena ótima em que aparece uma loira linda totalmente nua pilotando uma motocicleta, e tem o Super Soul, um radialista fudidaço que “acompanha” o cara via rádio. E no final a policia bloqueia a estrada, mas ele não desiste, parte para cima e acaba com tudo; e morre.
Falta bem pouco para eu chegar ao fim da minha estrada, pode ser o fim mesmo, ou pode se abrir outros caminhos. Na verdade não penso muito nisso, agora mesmo estou pensando na garota da foto que está pregada no painel poeirento do carro, faz tempo que não tenho notícias dela, faz tempo que a gente se separou; mas eu não esqueci de seus olhos apaixonantes e pele macia. Tomara que ela tenha me esquecido, para não sofrer tanto com essa situação que me meti.
Aha ha, alí está o bloqueio dos putos. Vamos lá, pé na tábua, mãos firmes, olhos atentos e um sorriso na cara. O carro voa a mil. Engraçado é que começa a tocar Someday Never Comes; cara, meu final vai ser lindo.



Trailer Vanishing Point: