quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Êxtase de Deus - O último conto

Eu ia e vinha, ia e vinha. Sem desviar o olhar um instante sequer de seus olhos, eu ia e vinha. Uma pequena ponta de lágrima surgiu abaixo de seus cílios, eu a vi brotar, crescer e escorrer pela sua face tão branca quanto o inverno.
Eu vi o fogo arder.
Eu senti todos os poros explodirem na cor vermelha, depois na violeta, na púrpura e em seguida eu ouvi a sinfonia, o regozijo da palavra.
Seu peito subia e descia, eu me alimentava dali, sugava toda a essência que me cabia na alma. E não desviava o olhar de seus olhos. Suas jabuticabas.
E o aroma vindo de seus cabelos dourados misturava-se com o oriundo do ato.
Eu ia e vinha, ia e vinha; e então tudo se tornou claro, ELA me seguia em perfeita simetria. Éramos uma só massa, um só corpo movido por dois corações. O fogo queimava intenso; imenso!
E então a tênue linha que liga o céu ao inferno se rompeu, e eu pude sentir o Êxtase de Deus.
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Acredito que o blog encerrou seu ciclo.
Até mais ver.

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ELA me pediu para esperá-la; esperarei.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Te espero lá

- Olá! Olha só quem eu vejo, você anda sumido, eim?!?
- Se eu ando sumido da sua vida é por algum bom motivo, não tenho vontade nenhuma de te ver ou de conversar com você. Talvez seja por isso que eu ando “sumido”.
- Credo, vá para o inferno!
- Te espero lá.
Ela virou as costas e foi embora. Eu fiquei por um tempo vendo seu traseiro rebolando, até que não era das más. Sem dúvida ela não merecia o que eu disse, mas sabe como é, dia ruim.
Acendi outro cigarro, não costumo fumar, exceto nesses dias em que nada dá certo. Estava sentado em uma mesa na porta de um bar, já tinha bebido duas garrafas e já fazia uma meia hora que minha melhor amiga me mandou para o inferno. Até que um sujeito muito esquisito sentou na cadeira a minha frente. “Merda,” pensei eu, “cada figura que me aparece”. Ele ficou me olhando com uma cara de idiota por um tempo.
- Amigo, me arruma um cigarro desse aí?
Ele tinha um sotaque do interior, dei-lhe um cigarro e fósforos. Ele acendeu de um jeito meio boiola e deu umas baforadas.
- Dá um gole aí dessa cerveja?
- Isso já é abuso, meu. Assim também não dá cara, eu nem te conheço e você quer beber a minhas custas?
- Cara, não tenho dinheiro, estou com sede.
- Meu, de mim você não vai conseguir mais nada, se manda daqui. Se ta sem dinheiro, vai dar o rabo para alguém que pague!
- Olha amigo, vai para o inferno.
Ele levantou e foi embora resmungando. Segunda pessoa que me manda para o inferno hoje. Melhor eu me cuidar.
Peguei mais uma cerveja e tomei rapidinho. Saí do bar e fui me sentar em um banco na praça, estava ficando escuro. Pensei um pouco na vida, peguei meu celular e liguei para ELA.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Eu sou a planta

Uma ressaca monstruosa me aporrinhava pela manhã. Mesmo assim eu tive forças para me deslocar até o maldito supermercado, para comprar algo de comer. Logo na entrada me dou conta que estão vendendo plantas. Colocaram algumas prateleiras com variadas espécies por ali. Uma coisa pequena me chama a atenção, pego o vazo em minha mão e observo.
Eu sou como essa planta que está na minha frente, pouco desenvolvida, feia, pedindo por um gole de água e luz. Ela tem espinhos, tem um certo estilo, algo que lembra uma personalidade própria. Aparenta mesmo estar sedenta por água. “Porra, você sou eu, eu sou você. Vou cuidar de você, você cuidará de mim?” Que merda de viadagem é essa que estou pensando? Mas mesmo assim eu vou compra-la.
Escolhi o caixa para pagar a planta, pela atendente. Dessa vez o critério de escolha foi os peitos. Gosto desse supermercado pelo uniforme que eles dão para seus funcionários usarem, as moças usam calças pretas apertadas e blusas decotadas, os homens... quem se importa. A caixa era boa, tinha um belo par de peitos, mas não era nada simpática. Logo me esqueci dela, mas eu a perdôo, é difícil alguém conseguir ser simpático comigo, eu causo repulsa nas pessoas. Saí do supermercado caminhando com minha planta.
Chegando em casa arranjei um lugar para por o vaso, ficou perto da janela, dei água a ela. Foda, me dei conta que esqueci completamente de comprar comida. Acho que sou assim, gosto de cuidar dos outros, mas não consigo cuidar de mim. Isso me entristece. Mas agora eu tenho uma planta.