domingo, 29 de março de 2009

O fim da estrada, o começo do caminho

- Toda percepção do mundo que eu tenho agora eu devo a você. Indiretamente você me influenciou, seus atos me fizeram pensar e abriram meus olhos. Esse seu jeito de encaram as coisas, sabe, isso mexeu comigo. Logicamente me apaixonei assim que te conheci melhor, apesar das idéias não baterem no início, mas depois estranhamente tudo se encaixou. Você é meu espelho, minha inspiração de como encarar a vida e de como agir diante das desigualdades e injustiças. Você me apresentou a natureza selvagem e me fez decidir qual caminho devo trilhar. O futuro me espera agora e não tenho medo dele. Acho que finalmente encontrei um propósito e vou poder viver minha vida plenamente. Penso tanto no que você dirá assim que souber o que vou fazer. Sei que não irá aprovar de início, mas com o tempo espero que você entenda. É isso o que tenho para dizer; é o que penso, é o que sinto.
- Quem liga? – Respondeu ela.

quarta-feira, 25 de março de 2009

A balada da mulher perfeita

Ela aparece, um encanto em pessoa. Eu me encanto por ela ter aparecido.
Vejo através de seus olhos azuis toda a imensidão do céu, vejo através de seus olhos verdes toda a extensão do mar e em seus olhos castanhos o por do sol. Mas o eu não me esqueço de seus olhos negros.
E então sopra o vento, levanta um pouco seu vestido de seda leve e florido, vejo sua pele branca como a neve, negra como o ébano, bronzeada pelo calor e morena cor de jambo. O vento trás seu perfume até mim, um aroma doce e especial que só as mulheres têm. Ela sorri agora, e que sorriso. Meu coração salta para a garganta. Ela mexe em seus longos cabelos negros e lisos, ela arruma seus cabelos loiros como ouro e cacheados, com um leve gesto alisa suas mechas vermelhas como fogo. Ah, o fogo. Ela o tem em suas mãos, o tem entre suas pernas e dentro do peito. Ele que me aquece nas mais frias noites. Ele que amoleceu os corações de pedra dos homens das cavernas. Chega mais perto, posso sentir o calor. Estendo minha mão para tocá-la, para sentir sua pele macia, seu calor entre meus dedos, sua textura fina e afável. E como seu eu não soubesse, ela desaparece. A mulher perfeita não existe, mas ela está na minha cabeça, mora em meu coração.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A vida em uma carta - Sue Helen

Sue Helen teve um dia chato e cansativo no trabalho, era final de mês e em seu departamento era dia de balanço. Para piorar era semana de carnaval e ela ainda não consegui descansar da festas. Saiu do escritório as 18h00 e tomou um ônibus rumo à faculdade. A aula também foi chata e cansativa, mas era sexta-feira. Após a aulas ela se animou, afinal amanhã seria sábado. Pegou o ônibus de volta para a casa, sentou nos fundos, como sempre, ajeitou os fones de ouvido e colocou uma música em seu Ipod. Pouco antes de chegar no ponto em que ia descer um estranho jovem se aproximou dela e lhe entregou uma carta.
- O que é isso? – Perguntou ela surpresa.
- Apenas leia mais tarde, é sua.
- Mas, não, ei volte aqui!
Ele saltou do ônibus assim que a porta abriu. Olhou para ela um última vez e disse:
- Apenas leia, por favor.
Sue Helen ficou perplexa, mas guardou a carta. Depois mais tarde em sua casa ela abriu o envelope e começou a ler...


Sue Helen, meu amor, minha vida

Comecei a acreditar em sorte depois que te conheci. Mal trocamos umas palavras e eu já te amei. Toda noite em que te vejo fico mais apaixonado.
Você deve estar perplexa, eu sei. Meu nome é Henrique, tinha 23 anos. Tinha? Você pergunta, sim, tinha. Pois agora já não estou mais nesse mundo. Mas você acabou de entregar a carta no ônibus? Você pergunta, não, aquele não era eu. Era apenas um amigo.
Eu era aquela pessoa que várias vezes lhe cedeu um lugar para sentar ou aquele que sempre sentava no fundo apenas a observar o movimento dos passageiros, ou inda era aquele jovem que ia de pé com olhar sem sentimentos mas que escondia uma paixão profunda pelo mundo. Não importa quem eu era, nesse momento eu quero que você entenda o quão grande é meu amor por você.
Escrevo agora olhando para você, sentindo seu perfume. Estou sentado do seu lado, posso tocá-la. Mas não o farei, e nem declararei meu amor pessoalmente. Pode me chamar de covarde, mas eu sou assim mesmo. É triste ser desse jeito, eu lhe confesso, mas levei a vida em bom termo.
Venho sentindo há alguns meses que já não existe mais o que fazer neste mundo senão envelhecer. Decidi que esta é uma boa idade para partir. Esta e mais outras duas cartas escritas a outras duas pessoas são minha despedida. Não peço que faça nada com ela, apenas leia e releia.
Foi bom ter amado você.
Te desejo uma boa vida.

Amo-te, querida Sue Helen.

Henrique

Sue Helen guardou a carta na gaveta do guarda-roupa e na manhã seguinte a releu. Achou tudo uma brincadeira de mau gosto que alguém estava pregando. Mas um sentimento estranho de “e se for verdade” instaurou-se em seu peito. Dias depois ela jogou a carta fora mas meses depois ainda se lembrava dela. Sue Helen viveu muito anos mais, teve alegrias e tristezas. Teve uma boa vida.

terça-feira, 17 de março de 2009

Ao acaso, para sempre

- Empresta-me um dinheiro para eu comer?
- Suma!
- Estou faminto, empresta-me?
- Suma!
- Por favor, faz dias que não como. Empresta-me?
- Emprestar-te? Vai pagar quando? Suma!
- Pago no natal quando tiver dinheiro, ou se quiser faço uma previsão do seu futuro.
- Há, sei. Previsão é? Suma!
- Eu vejo o futuro.
- Cai fora, suma!
- Se emprestar-me um dinheiro eu não te digo o futuro.
- Como é que é? Se eu emprestar-te dinheiro você não vai ler meu futuro? E seu eu não emprestar você vai ler?
- Isso mesmo.
- Hahaha, suma! De uma vez por todas.
- Não vai emprestar-me?
- NÃO
- Então vou dizer sobre seu futuro.
- Pois diga, filho da mãe.
- Você vai morrer em três dias.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Dia 13, sexta-feira

-Hoje comemora-se o dia de halloween!
-Comemora-se? Onde?
-Oras, em todo lugar!
-Nossa, nem percebi.
-Mas está tudo aí! Você não olhou direito a sua volta. Veja aquela senhora alí sentada, uma verdadeira múmia e o marido alí do lado paquerando as menininhas na cara dura, um vampiro! Olhe o velho homem de chapéu e barba, parece um mago, o jornal em sua mão um livro de mal presságios. Cheio de assassinatos, roubos, mentiras, política... Fantasias, meu caro.
-Hã?
-Sim, fantasias. Todo mundo se fantasia na dia de halloween. Eu por exemplo sou um fantasma, veja minhas mãos esquálidas e meus olhos vazios. E você, sei lá, o lobisomem.
-Lobisomem?!?
-Repare bem ao seu redor. Todo esse clima de misticismo, esse céu tenebroso que está se formado, os olhares famintos das pessoas. As bruxas estão soltas nesse dia. Os feitiços vagueiam pelo vento. Não consegue sentir.
-Bem... não exatamente, mas estou com um pouco de frio.
-Sim frio, uma sensação estranha que sobe pela espinha e deixa sua cabeça formigando.
-Eu sei o que é o frio!
-Vou comer seu cérebro.
-Que?
-Sim vou comê-lo. Vem cá!
-Nãoooooo.
-Grrsrsgsgrsgsrgsr, nhoque nhoque
-Ahhhhhhhhh.
-Hum.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Primeiro dia do Homem do Amanhã

Nada mal começar uma nova carreira no topo, Stu já sabia disso. Não que ele pudesse, ou mesmo quisesse escolher outra coisa, já estava escrito que seria assim. Desde os tempos da capa e espada um filho de herói, herói seria.
Stu mal podia sentir o peso de sua vida atual, ainda não tinha se dado conta do quão admirável seria dali em diante. Não é mentira dizer que o rapaz sentia orgulho de estar ali e que suas aspirações para o futuro eram as melhores. Vejamos Stu em cima do edifício em que esta agora. Ele não é alto e nem tem um corpo atlético, ainda tem espinhas na cara e seu cabelo merece um corte. Seu traje um tanto quanto básico sugere sua profissão. E no meio da face um sorriso estampado.
Há dois meses atrás mal podia imaginar o rumo que as coisas tomariam, todas as mudanças e novas responsabilidades, e tudo começou com seu pai, quando certo dia chegou em casa sangrando. Stu morava sozinho com ele, sua mãe partira quando ele era pequeno e não tinha irmãos. Seu pai estava sangrando muito por diversos pontos do corpo, estava com vários cortes e hematomas. Stu achou que ele havia sido atropela ou coisa assim e queria leva-lo rapidamente para o hospital, mas seu pai disse que não havia mais tempo e que precisava contar o que realmente ele fazia da vida, Stu não sabia com o que seu pai trabalhava, e seu pai contou. Contou também como Stu deveria conduzir sua vida daqui para frente, como deveria tratar as pessoas e como seria difícil ser fiel à justiça.
Stu olhou para a cidade abaixo e estremeceu um pouco. “Estou aqui pai, a cidade a meus pés. O que faço agora?” Uma leve bisa soprou. Era chegada a hora. Stu saltou, deu uma guinada e voou por cima dos prédios e casas. Era seu primeiro dia de trabalho.

quarta-feira, 11 de março de 2009

terça-feira, 10 de março de 2009

As aventuras dos decréptos Sr. Tabaco e Mr. Beer

Bob estava morto agora, Sr. Tabaco e Mr. Beer não foram ao seu enterro. Diziam que eram amigos mas era só aparência. Estranhamente os três não se desgrudavam uns dos outros apesar dos pesares, mas no fim Bob se foi.
Sr. Tabaco e Mr. Beer não se importaram realmente com a morte, tinham certeza que encontrariam outro amigo que lhes dessem toda a atenção que necessitavam. E também não tinham muita pressa, afinal, até onde sabiam, eram imortais.
Sentados em um bar qualquer Sr. Tabaco e Mr. Beer beliscavam alguns petiscos já ressecados e envelhecidos. Bebiam também uísque barato em copos sujos e puídos.
Uma nuvem de fumaça pairava pelo teto do ambiente deixando as luzes turvas e as paredes enegrecidas. Meia dúzia da escória da cidade se espalhava pelo balcão e mesas. Tipos que só se encontram nesses lugares. Vagabundos, ladrões, músicos de quinta, trapaceiros, alcoólatras inveterados e homens mal amados. Não era o tipo de lugar que Sr. Tabaco e Mr. Beer acreditassem que encontrariam alguém interessante, estavam ali apenas a bel prazer de observar a pior face das massas.
Escorado no balcão havia um homem maltrapilho e sujo. Cabelos precisando de um corte e uma espessa barba cobrindo o queixo. Obviamente estava bêbado à dias. Observava Sr. Tabaco e Mr. Beer já a algum tempo, parecia que estava tentando se lembrar de onde conhecia os sujeitos. Resolveu, depois de matar mais um copo de conhaque, se aproximar.
- Conheço vocês de algum lugar! – Berrou o maltrapilho.
Sr. Tabaco e Mr. Beer se entreolharam, mas sem alterar suas expressões de indiferença com tudo a volta.
- Agora estou me lembrando, já faz uns dez anos desde a ultima vez que os vi. Vejam, vejam, e agora assim sem mais nem menos aparecem por aí.
O homem mal se apoiava com seu próprio peso, mas mesmo assim continuou de pé gesticulando. Sr. Tabaco e Mr. Beer parece que acharam algum interesse no sujeito. E este continuou berrando.
- Vocês, sujeitos decréptos, não dizem nada? Ahrg estou compreendendo agora o que fazem aqui! Vieram me ver, vieram observar no que eu me tornei. Não! No que vocês, malditos, me tornaram! Estão satisfeitos por me verem nessa situação degradante, nesse estado pior que o lixo que jogam pela janela.
Sr. Tabaco e Mr. Beer ouviam com atenção, mas com olhos vazios.
- Estou já nas últimas e agora vocês se regalam com meu penoso fim. Eu tinha tudo e agora não tenho nada. Tudo me foi tirado, só o vício ficou. E para onde foram todas as minhas coisas? Eu me pergunto. Claro, está mais do que obvio que vocês consumiram tudo, até as cinzas.
Ao mesmo tempo, Sr. Tabaco e Mr. Beer apontaram para uma porta e empurraram sobre a mesa um volume embrulhado em jornal em direção ao homem. Este, desnorteado pelos olhares sem vida dos dois decréptos sujeitos não conseguiu fazer outra coisa senão pegar o embrulho e sair pela porta, ainda resmungando agora para si só.
- O fim, o fim...
Ouviu-se um estalo alto, mas nada que incomodasse Sr. Tabaco e Mr. Beer. Pouco tempo depois deixaram umas notas sobre a mesa e partiram do bar imundo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Teobaldus Trades

Meu nome é Teobaldus Trades, ou era, pois depois que morremos os nossos nomes morrem junto e se perdem para sempre. Já faz muitos anos que parti dessa para melhor e eu te digo, para bem melhor. Escolhi esse momento para escrever por que agora vejo tudo muito claro, todos os acontecimentos, todos os fatos, todas as conversas, tudo está nítido. Andei pensando, todos esses anos de minha vida até que valeram a pena. Eu fui um pirata do século XVII, passei grande parte do tempo no mar, no navio SPECTRO. O Mar do Caribe era meu mundo, o SPECTRO minha casa. No fim, como quase todo pirata, acabei sendo enforcado. Vivi até os 26 anos, vida curta mas vida bem vivida. Meu pai nunca conheci, minha mãe disse que também era pirata, possivelmente morreu cedo também. Minha mãe trabalhava em um taverna, morreu quando eu tinha 9 anos. Logo cedo eu ingressei no caminho mais curto da vida, morava na rua imunda e roubava tudo e todas as coisas possíveis. Endureci e me tornei forte nessa época. Logo tive a chanche e engajei no navio pirata MORTEM, aprendi a arte de ser pirata aí, e percebi que levava jeito para a coisa. Mas apesar dessa vida na bandidagem nunca matei um homem, talvez por isso tive uma morte prematura. Depois do MORTEM passei por diversos navios até me enrraizar no SPECTRO. Nunca me casei, não tive filhos, mas lembro-me perfeitamante de ter tido três grandes amores. Três mulheres que deixaram suas marcas em meu peito. Lembro-me dos versos declamados a dama branca, dos amores ardentes com a senhora de vermelho e dos flertes correspondidos com a deusa de cabelos negros. Pena ter que deixa-las para traz e partir, o mar chama mais forte. Não tive grandes feitos, apenas o normal para um pirata. Nunca participei do saqueamento de um grande navio carregado de tesouros, nunca fui rico. O mar e o vento batendo em meu rosto bastava. O gosto do vinho ainda sinto, o do run dispenso, gostava mais das coisas doces. Como disse, tive uma boa vida.

domingo, 8 de março de 2009

Dance Jack. Dance

Jack criou uma máquina de fazer som, Jack colocou seu coração nela, a máquina de fazer som tocou para Jack uma melodia jamais antes escutada, Jack viajou no som, sentiu prazeres que nunca tinha sentido, Jack amou a máquina de fazer som. Em um acidente Jack perdeu um braço, Jack tinha uma máquina de fazer som mas não tinha braço, mesmo assim...A máquina de fazer som a cada dia se aprimorava, sempre com sons, melodias, cantos, barulhos e etc, inimagináveis, Jack a cada dia se apaixonava mais. Jack contraiu uma doença e teve que amputar as pernas, Jack tinha uma máquina de fazer som mas não tinha um braço e as pernas, mesmo assim...A máquina de fazer som certo dia parou, Jack então com seu único braço a concertou, a máquina de fazer som agora parecia que criava coisas como nunca, Jack ficou mais do que feliz, certo dia Jack se envolveu com pessoas que usavam espadas, não deu outra... perdeu seu braço, Jack tinha uma máquina de fazer som mas não tinha os braço e as pernas, mesmo assim...Mesmo assim Jack dançava e se deliciava ao ouvir as mais belas sinfonias tocadas pela máquina de fazer som.

sábado, 7 de março de 2009

Zona negativa

Certa vez recebi um convite de um amigo, me parecia que ia ter uma festa em algum canto de Itupeva não entendi direito, ele estava com pressa, me passou o endereço rapidamente e se foi. Era sábado e já estava anoitecendo, e eu no meio da rua tentando resolver alguns problemas. Não tinha nada para fazer mais tarde, então liguei para algumas pessoas e comentei sobre a festa. Combinei com dois amigos de irmos juntos em meu carro. Saímos de casa por volta das 11h00 da noite e antes de partirmos direto para lá resolvemos passar em um supermercado comprar algumas bebidas. Depois disso partimos para Itupeva. Não conhecíamos o caminho direito, apenas me lembro de ter cruzado a cidade e pego uma estrada de terra sem iluminação. Um estranho silêncio pairou sobre nós. É certo que estávamos meio altos a essa hora e a noite estava um breu, mas o que veio a parti daí não é fruto de nossas alucinações. Cruzamos com um velho senhor no meio da estrada e aproveitamos para pergunta se ele conhecia uma tal de chácara onde estava acontecendo uma festa. Ele respondeu que naquela região havia várias chácaras e que muitas festas aconteciam, mas estava lembrado do lugar que eu havia perguntado e disse que tínhamos eu seguir por mais um bom pedaço. Agradeci e partimos. Rodamos por mais vinte minutos, cruzamos algumas casas e sítios e vimos que estávamos chegando perto da numeração de nosso destino. Foi quando aconteceu um fato estranho, mais a frente parecia que havia um clarão avermelhado no céu, como se alguma coisa estivesse pegando fogo, só que não havia fumaça ou algo que se assemelhasse a chamas. E então comecei a ouvir uma espécie de silvo bem baixinho, um barulho igual a uma panela de pressão. Achei que apenas eu ouvia, mas meus amigos também estavam ouvindo. Fui mais devagar com o carro, tinha a sensação que alguma coisa estava a acontecer. Parei o carro bruscamente quando o clarão aumentou e desapareceu de repente. Não sabia o que fazer, se continuávamos ou não. Continuamos. Pouco depois achamos o local da festa, não havia nada lá, apenas um portão com o número da chácara, mas atrás deste não havia nada alem de um terreno vazio com alguns tufos de mato aparentando terem sido queimados. Voltamos para casa. Nunca mais vi o amigo que me convidou para a suposta festa, não conseguia mais ligar para ele, não sabia onde morava.

sexta-feira, 6 de março de 2009

2085

A fúria da destruição tomou conta de nosso planeta em 2085. A tecnologia atual não conseguiu salvar a população, bilhões morreram. Algumas poucas naves emergiram para o espaço sem rumo. O restante ficou na Terra, definhando na atmosfera sufocante. Nesta época os robôs remanescentes da nova tecnologia de AI avançada começaram a multiplicar-se, novas forjas foram criadas e centros de abastecimento de tecnoplasma foram expandidos. A convivência entre robôs e humanos até certo ponto era incerta, pois as máquinas dotadas de inteligência também tinham seus medos e suspeitas. A tensão era grande em toda parte, nunca se sabe quando a guerra iria começar. Os dois lados aguardavam o outro atacar primeiro, era algo parecido com a antiga guerra fria do século XX. Esse era o motivo da multiplicação dos robôs e da evolução armamentista promovida pelos humanos. Toda população restante do planeta tornou-se parte do mesmo exército, todos eram treinados em armas e os cientistas e engenheiros aplicavam todo seu conhecimento em tecnologia armamentista. O fim do mundo teve início a partir daí.Estamos no ano de 2108, tenho apenas 23 anos e fui convocado para a minha primeira missão especial, nos tempos atuais a idade não faz diferença...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Um conto jundiaiense sobre cabeças em um saco

Estranho, muito estranho. Esse caso aconteceu há duas semanas atrás, em uma pequena cidade do interior de São Paulo, Jundiaí. Quem sabe ao certo o que aconteceu já está morto. Seu corpo foi encontrado em um lago, próximo a Itupeva. Mas antes de morrer ele deixou algumas pistas. O fato deu-se a noite, por volta das 23:00 h, no bairro do Caxambu. Dois jovens casais estavam à caminho de uma festa, que aconteceria em uma chácara nas proximidades, estavam de carro. Era certo que haviam bebido alguma cerveja e vinho e as risadas já estavam altas. Já próximos ao seu destino, em uma rua deserta, avistaram uma pessoa andando no meio fio carregando um grande saco nas costas. É nessa parte do relato que não se sabe realmente o que aconteceu, uns dizem que o estranho acenou para o carro parar, pois estava perdido, ou pedindo comida. Mas não se para um carro para pedir informações ou comida. Outros dizem que os jovens queriam aprontar alguma brincadeira com o sujeito. É fato que param o carro e que estranhamente os casais desceram do carro. Uma outra pessoa que passava pela rua viu todo o ocorrido, essa que foi encontrada no lago. Sabe-se apenas que o estranho homem retirou de sua casaca uma espécie de espada retorcida e atacou os jovens. Apenas isso. Cruelmente suas cabeças foram decepadas e supostamente colocadas no saco e levadas pelo estranho. Após isso, saiu caminhando normalmente. O assassino não foi encontrado até o momento, e o motivo das mortes não se sabe ainda. A polícia procura por um homem vestido com roupas velhas, uma casaca e carregando um saco, supostamente com quatro cabeças dentro.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Meu nome é Defus, ando meio sumido, mas ainda calço o mesmo número de sapatos

Um tom cinzento preenchia o céu naquela manhã, não chovia, mas o ar estava úmido. Mesmo assim o centro da cidade estava normal, ou seja: cheio.
O jornaleiro da banca da praça da rua Barão estava carrancudo como sempre atrás do balcão, passava os olhos em uma revista de carros e ainda ficava de olho nos clientes. Ele gostava de sua capacidade de observar duas ou mais coisas ao mesmo tempo, via coisas demais e talvez por isso andasse tão carrancudo. Pode-se dizer que seus ouvidos não chegavam aos pés dos olhos, mas nesse momento ele ouvia um barulho de rolamento, possivelmente vindo de um skate, e seus ouvidos não se enganaram.
Defus não tinha pernas, elas foram cortadas pouco abaixo da cintura. Para se locomover ele tinha um skate, se apoiava nele com o tronco e o empurrava com as mãos. Claro que suas mãos era o que se podia chamar de judiadas, mas as esfoliações eram tantas que ele criara um bloqueio mental para a dor e persistia e insistia com seus nervos de que isso era natural, já fazia parte de sua vida. O centro da cidade era seu lar, muitos comerciantes, freqüentadores do centro, pastores, mendigos, debilitados mentais (que sentam em um banco na praça e cantam músicas do Raul Seixas), e vagabundos afins conheciam Defus. Inclusive o jornaleiro da banca da praça da rua Barão.
- Dia, seu Defus. – disse o jornaleiro observador e carrancudo.
- Bom dia.
- Vejo que voltou, você andou meio sumido, não?
Apesar de muita gente o conhecer, ninguém sabia onde Defus passava a noite e também ninguém nunca o viu comendo alguma coisa.
- Eu ando meio sumido, mas veja, ainda calço o mesmo número de sapatos. – Disse Defus.
- Ah, - Respondeu o jornaleiro.
Defus deu uma boa olhada na banca de jornais, pegou um jornal barato e pagou com um nota suja e amassada.
- Estou me despedido da cidade. – Disse Defus.
- Vai embora?
- Vou dar uma volta. Conhecer o mundo, sabe. Disseram que as venezuelanas são muito gostosas. – Disse Defus abrindo um sorriso e deixando a mostra seus poucos dentes amarelados e podres.
Depois saiu rastejando com o skate e nunca mais foi visto pelo carrancudo jornaleiro da banca da praça da rua Barão.

terça-feira, 3 de março de 2009

A vida em uma carta – Maria Clara

Estava tudo muito calmo naquela noite, não havia o costumeiro barulho do transito, das buzinas, das músicas em alto volume, dos transeuntes alvoroçados e dos bêbados cantores. Maria Clara voltava da faculdade naquela hora e estava cansada. Era a semana logo após o carnaval, a rotina voltara com tudo. O mesmo chefe chato, os mesmos professores chatos, mas pelo menos o transito estava ok. Ela chegou em sua pequena casa que dividia com mais duas amigas. Uma delas estava deitada no sofá assistindo a televisão e logo que avistou Maria Clara disse:
- Sua mãe passou de manhã por aqui, deixou um bolo e uma carta. Esta aqui ó. Veio para o seu antigo endereço.
Maria Clara pegou a carta e foi para seu quarto, guardou suas coisas e se sentou na banqueta da penteadeira. Estava com a carta na mão lendo o nome do remetente. Ela conhecia dois Henriques, mas nenhum era do tipo que mandava cartas e nem teria motivos para lhe escrever. Ela a abriu e começou a ler...

Maria Clara, minha paixão

Não se assuste, você me conhece muito pouco ou quase nada, mas mesmo assim posso dizer com certeza que você é minha paixão. Escrevo agora olhando para você. Sim você está ali. Seu jeito doce de dizer obrigado e seu sorriso me encantaram. Acendeu uma chama em meu peito. Você é tudo que eu vejo agora. Pode alguém apaixonar-se por isso? Por esses simples gestos? Pode sim, eu sou a prova disso. Não a prova viva, pois nessa hora eu já não estou mais aqui. Para onde vou? Não sei.
Eu disse para não se assustar, apenas leia e procure entender que meus sentimentos são sinceros e que não há mentira em nenhuma palavra minha.
Vou me apresentar formalmente, me chamo Henrique, mas já tive outros nomes. Nasci e vivi nessa mesma cidade, mas vivo em todos os lugares. Minha mente viaja. Em vida tive boa família e bons amigos. Confesso que já amei outras pessoas assim como te amo. Em meus 23 anos de vida conheci parte do mundo e parte do coração humano. Apesar da pouca idade já sinto que conheci o suficiente e me decidi partir direto para o fim, para o derradeiro mistério. Esta é uma carta de despedida, minha paixão.
Eu posso ser um covarde que me esconde atrás das palavras, sou uma pessoa melhor atrás de um papel. Mas não me importo, sou o que sou e “nos somos quem podemos ser”.
Me apaixonei por você em um dia chuvoso. Eu me abriguei em sua pequena loja de doces para me proteger da chuva. Troquei algumas palavras com você, comprei balas e chicletes apenas para tocar em sua mão. Seu nome descobri em outra ocasião, mas não acho necessário contar isso agora.
O que sinto agora é que quando chegamos ao fim desejamos de todo coração que as pessoas a nossa volta tenha uma vida boa, uma vida de alegrias. É o que desejo para você meu amor.

Amo-te, querida Maria Clara

Henrique

Depois de ler a carta, Maria Clara a releu. Foi até a sala onde agora estavam as duas amigas, companheiras de aluguel e mostrou a carta para elas. Acharam muito estranha e cogitaram até chamar a polícia. Depois pesquisaram nos jornais e na net sobre possíveis suicídios. Mas não encontraram nada. Meses depois já haviam esquecido o ocorrido. Maria Clara teve uma boa vida.

segunda-feira, 2 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009

Fred cabeça de bagre

Ele era um puta de um cabeça de bagre. Tudo que ele fazia ou botava mão dava em merda. Exceto aquele dia fodido em que ele acertou os seis números da mega-sena e ganhou 26 milhões de reais. Sortudo filho da mãe.
Mas, (sua vida era cheia de “mas”) com a mesma facilidade que ele ganhou a grana, o imbecil perdeu tudo em apenas seis meses. A primeira merda que fez com o dinheiro foi comprar um Audi modelo Lê Mans. Pagou caro pra caralho e em três dias com o maldito carro Fred capotou a 170 km totalmente chapado de cocaína. Não se machucou muito, mas foi preso por agredir um policial e um enfermeiro enquanto estava sendo socorrido. Pagou a fiança e perdeu o carro, não tinha feito seguro, o idiota, perdeu também a carta de motorista.
Um tempo depois comprou um jatinho e um iate. Seriam boas compras se não fosse pelo fato de ele raramente usa-los. Preferia ficar o dia todo embriagado em sua nova e gigantesca piscina. Comprou os mais caros vinhos e uísques e para guarda-los comprou uma mansão de 7 milhões de reais em uma cidade interiorana.
O grande cabeça de bagre caia facilmente em golpes esdrúxulos e as pessoas tiravam dinheiro dele como se tirava doce de criança. Chegou a investir milhões em uma industria de petróleo que supostamente ficava no norte da Rússia. A empresa nem existia e o paspalho perdeu tudo que investiu.
Conheceu uma garota esperta, esperta demais para ele. Se casou em apenas dois meses e em cinco meses se separou. Ela levou boa parte do dinheiro. Ele tentou escrever um livro com suas memórias, saiu a maior merda já escrita, mas mesmo assim ele publicou bancando tudo. Claro que não vendeu porra nenhuma.
Depois dessas merdas todas o cabeção ainda conseguiu se envolver em um rolo com uns traficantes peruanos e para não perder sua vida inútil, teve que desembolsar muito dinheiro, inclusive foi obrigado a vender a mansão, o iate e o jatinho.
Com o pouco dinheiro que restou e já começando a ficar desesperadamente louco ele fez a ultima merda de sua vida. Foi para Las Vegas e, é claro, do jeito que era imbecil acabou com toda a porra da grana. Na ultima noite de sua vida ele comprou muito uísque e cocaína. Foi encontrado morto por overdose em um quarto de um hotel barato.