terça-feira, 10 de março de 2009

As aventuras dos decréptos Sr. Tabaco e Mr. Beer

Bob estava morto agora, Sr. Tabaco e Mr. Beer não foram ao seu enterro. Diziam que eram amigos mas era só aparência. Estranhamente os três não se desgrudavam uns dos outros apesar dos pesares, mas no fim Bob se foi.
Sr. Tabaco e Mr. Beer não se importaram realmente com a morte, tinham certeza que encontrariam outro amigo que lhes dessem toda a atenção que necessitavam. E também não tinham muita pressa, afinal, até onde sabiam, eram imortais.
Sentados em um bar qualquer Sr. Tabaco e Mr. Beer beliscavam alguns petiscos já ressecados e envelhecidos. Bebiam também uísque barato em copos sujos e puídos.
Uma nuvem de fumaça pairava pelo teto do ambiente deixando as luzes turvas e as paredes enegrecidas. Meia dúzia da escória da cidade se espalhava pelo balcão e mesas. Tipos que só se encontram nesses lugares. Vagabundos, ladrões, músicos de quinta, trapaceiros, alcoólatras inveterados e homens mal amados. Não era o tipo de lugar que Sr. Tabaco e Mr. Beer acreditassem que encontrariam alguém interessante, estavam ali apenas a bel prazer de observar a pior face das massas.
Escorado no balcão havia um homem maltrapilho e sujo. Cabelos precisando de um corte e uma espessa barba cobrindo o queixo. Obviamente estava bêbado à dias. Observava Sr. Tabaco e Mr. Beer já a algum tempo, parecia que estava tentando se lembrar de onde conhecia os sujeitos. Resolveu, depois de matar mais um copo de conhaque, se aproximar.
- Conheço vocês de algum lugar! – Berrou o maltrapilho.
Sr. Tabaco e Mr. Beer se entreolharam, mas sem alterar suas expressões de indiferença com tudo a volta.
- Agora estou me lembrando, já faz uns dez anos desde a ultima vez que os vi. Vejam, vejam, e agora assim sem mais nem menos aparecem por aí.
O homem mal se apoiava com seu próprio peso, mas mesmo assim continuou de pé gesticulando. Sr. Tabaco e Mr. Beer parece que acharam algum interesse no sujeito. E este continuou berrando.
- Vocês, sujeitos decréptos, não dizem nada? Ahrg estou compreendendo agora o que fazem aqui! Vieram me ver, vieram observar no que eu me tornei. Não! No que vocês, malditos, me tornaram! Estão satisfeitos por me verem nessa situação degradante, nesse estado pior que o lixo que jogam pela janela.
Sr. Tabaco e Mr. Beer ouviam com atenção, mas com olhos vazios.
- Estou já nas últimas e agora vocês se regalam com meu penoso fim. Eu tinha tudo e agora não tenho nada. Tudo me foi tirado, só o vício ficou. E para onde foram todas as minhas coisas? Eu me pergunto. Claro, está mais do que obvio que vocês consumiram tudo, até as cinzas.
Ao mesmo tempo, Sr. Tabaco e Mr. Beer apontaram para uma porta e empurraram sobre a mesa um volume embrulhado em jornal em direção ao homem. Este, desnorteado pelos olhares sem vida dos dois decréptos sujeitos não conseguiu fazer outra coisa senão pegar o embrulho e sair pela porta, ainda resmungando agora para si só.
- O fim, o fim...
Ouviu-se um estalo alto, mas nada que incomodasse Sr. Tabaco e Mr. Beer. Pouco tempo depois deixaram umas notas sobre a mesa e partiram do bar imundo.

3 comentários:

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Mais outro do Laranja Mecânica!

Sunflower disse...

Há. Muito bom. Que repouse em paz o Eu Etílico.


beijas

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Amém