quinta-feira, 19 de março de 2009

A vida em uma carta - Sue Helen

Sue Helen teve um dia chato e cansativo no trabalho, era final de mês e em seu departamento era dia de balanço. Para piorar era semana de carnaval e ela ainda não consegui descansar da festas. Saiu do escritório as 18h00 e tomou um ônibus rumo à faculdade. A aula também foi chata e cansativa, mas era sexta-feira. Após a aulas ela se animou, afinal amanhã seria sábado. Pegou o ônibus de volta para a casa, sentou nos fundos, como sempre, ajeitou os fones de ouvido e colocou uma música em seu Ipod. Pouco antes de chegar no ponto em que ia descer um estranho jovem se aproximou dela e lhe entregou uma carta.
- O que é isso? – Perguntou ela surpresa.
- Apenas leia mais tarde, é sua.
- Mas, não, ei volte aqui!
Ele saltou do ônibus assim que a porta abriu. Olhou para ela um última vez e disse:
- Apenas leia, por favor.
Sue Helen ficou perplexa, mas guardou a carta. Depois mais tarde em sua casa ela abriu o envelope e começou a ler...


Sue Helen, meu amor, minha vida

Comecei a acreditar em sorte depois que te conheci. Mal trocamos umas palavras e eu já te amei. Toda noite em que te vejo fico mais apaixonado.
Você deve estar perplexa, eu sei. Meu nome é Henrique, tinha 23 anos. Tinha? Você pergunta, sim, tinha. Pois agora já não estou mais nesse mundo. Mas você acabou de entregar a carta no ônibus? Você pergunta, não, aquele não era eu. Era apenas um amigo.
Eu era aquela pessoa que várias vezes lhe cedeu um lugar para sentar ou aquele que sempre sentava no fundo apenas a observar o movimento dos passageiros, ou inda era aquele jovem que ia de pé com olhar sem sentimentos mas que escondia uma paixão profunda pelo mundo. Não importa quem eu era, nesse momento eu quero que você entenda o quão grande é meu amor por você.
Escrevo agora olhando para você, sentindo seu perfume. Estou sentado do seu lado, posso tocá-la. Mas não o farei, e nem declararei meu amor pessoalmente. Pode me chamar de covarde, mas eu sou assim mesmo. É triste ser desse jeito, eu lhe confesso, mas levei a vida em bom termo.
Venho sentindo há alguns meses que já não existe mais o que fazer neste mundo senão envelhecer. Decidi que esta é uma boa idade para partir. Esta e mais outras duas cartas escritas a outras duas pessoas são minha despedida. Não peço que faça nada com ela, apenas leia e releia.
Foi bom ter amado você.
Te desejo uma boa vida.

Amo-te, querida Sue Helen.

Henrique

Sue Helen guardou a carta na gaveta do guarda-roupa e na manhã seguinte a releu. Achou tudo uma brincadeira de mau gosto que alguém estava pregando. Mas um sentimento estranho de “e se for verdade” instaurou-se em seu peito. Dias depois ela jogou a carta fora mas meses depois ainda se lembrava dela. Sue Helen viveu muito anos mais, teve alegrias e tristezas. Teve uma boa vida.

6 comentários:

Bruno disse...

É acho que vou baixar o volume do meu ipod e prestar mais atenção nessas coisas...

Ana Karenina disse...

A vida é uma caixinha de surpresas. Não existe frase mais brega e clichê, e não existe frase mais certa.
Ainda espero as suspresas que a vida me reservou. Ou talves elas estejam por aí, a me observar. Peço que tomem iniciativa, por favor! =)

Belo texto, querido.
Vou salvá-lo.
Té mais.

Sunflower disse...

Que bem essa carta teria feito a Sue Helen?

bella ferraro disse...

É, meio egoísta mandar uma carta dessas quando mais nada poderia ser feito. Pobre Sue Helen, deve ter morrido bastante frustrada.

Mateus Henrique Zanelatti disse...

E pois é. Bem nenhum.
Mas leiam as outras duas cartas em postagens anteriores que acho que dá para entender melhor o contexto e as razões do podre coitado (que comecei a achar que é um imbecil), mas esse conto ainda não acabou. Em breve teremos novos capítulos dessa novela paraguaia.

Marguerita disse...

Não há nada mais a fazer, do que só envelhecer...

Pois é, meu caro...