segunda-feira, 22 de junho de 2009

Nem tão quente quanto o inferno

A salamandra rastejou pelo charco e se enfiou na primeira poça que encontrou.
Um grupo de homens, tão cobertos de lama que nem pareciam homens, andavam afundando-se até os joelhos. Carregavam rifles de caça sobre a cabeça e dois deles dividiam o peso de uma caixa de madeira. Enormes e pavorosos insetos infestavam o ar quente e úmido, eles sugavam grande quantidade de sangue ao penetrar na pele dos desprevenidos. O suor brotava das testas dos homens e escorria pelos seus rostos carrancudos, mesmo assim nenhum deles pestanejava. Vez ou outra tomavam um trago de aguardente Janx para aliviar a situação.
Estavam caminhando pelos traiçoeiros pântanos do planeta Gestlelman de Froiney, os pântanos de Glaxodimim. Esse lugar era conhecido como o Inferno Molhado. Poucos se aventuravam por essas bandas, exceto animais rastejantes ou voadores, que comiam os animais rastejantes.
A salamandra apontou sua cabeça para fora da poça que estava enfiada e o observou o movimento dos homens.
Eles agora pararam. Parecia que haviam chegado ao lugar planejado, que não era diferente dos outros lugares ao redor. Era úmido e quente, e havia os insetos. Depositaram a caixa de madeira no chão e ela afundou um pouco. Com um pé de cabra, ou uma ferramenta bem próxima à um pé de cabra, abriram-na. Um dos homens estava cavando ao lado, na verdade estava tentando cavar, ao retirar a lama com a pá, outra lama ocupava seu lugar. Desistiu depois de um tempo. Então dois homens retiram de dentro da caixa um corpo embrulhado em um plástico amarelo.
Depositaram o corpo na lama e abriram o saco amarelo, talvez para uma última despedida. O corpo era pequeno, havia partes metálicas em alguns membros, era meio humano, meio robô. Sua cabeça era humana, ao menos dava para ver os miolos saindo de um enorme buraco que havia na testa.
Os homens voltaram a cobrir o corpo com o saco amarelo e jogaram lama sobre ele até ficar totalmente soterrado e sem chances de dar as caras ao ar livre novamente. Sobre o local que estava enterrado o corpo tentaram colocar uma placa, que acabou sendo pregada em um arbusto nas proximidades, nela podia-se ler: “Aqui está enterrado o grande amigo Xisfaldo, um grande filho da puta que pediu para ser enterrado em um lugar filho da puta.”
A salamandra viu os homens partirem, cantou um ou dois versos de uma canção local e voltou para sua poça.

4 comentários:

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Leve (leve?) inspiração na obra fantástico do Douglas Adans.

Unknown disse...

adoro Salamandras....
bju***

Ana Karenina disse...

Douglas Adams rulez!
Ele só tem O guia?
Muito bem inspirado, viu. Deu pra lembrar muito bem.
Quando eu leio algo surreal de bom, também me sinto inspirada a escrever tal e qual.
Claro que não consigo, né? Mas o que vale é entender a essência. ;)

Beijos, lindo!

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Claro que consegue Nina!