segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A casa das mil paredes

Com estranheza profunda percorrendo minha espinha, me adentrei nessa casa. Coisa boa não viria, percebi assim que a porta se fechou sozinha atrás de mim, igual aos filmes doidos de terror anos oitenta.
Quanta poeira levantei assim que comecei a andar pra lá e pra cá. Mas era isso, fui contratado para “dar um jeito” na casa, e cá estou. Realmente perguntei o que seria “dar um jeito” na casa, mas o senhor do outro lado da linha apenas riu e disse que pagava bem. Imaginei logicamente que seria um serviço de limpeza, eu não trabalhava estas coisas, mas tinha uma vassoura e um aspirador em casa, então que mal há nisso? Ele disse que pagava bem.
Quanto mais me adentrava na casa, mais achava que ela não tinha fim. Minha vassoura dançava freneticamente pelo chão e paredes, atrás de mim um turbilhão de poeira revolto envolvia o ambiente.
Comecei a contar os quadros pendurados nas paredes da casa. Achei mais sábio parar quando cheguei ao número trezentos e quarenta e sete. Mas os quadros até que eram bonitos de se ver, depois de limpos.
Chegou a hora de usar o aspirador, mas o deixei na entrada. Comecei a caminhar de volta, ou não, caminhar mais para dentro, já não sabia mais o traçado, estava perdido. Mesmo seguindo a parte que já limpei, não consegui me encontrar. E o pior, perdi a vassoura.
Alguns dias depois, ainda perdido entre as mil paredes da estranha casa, perdi também a esperança. Achei um esqueleto estendido no chão, vestindo um macacão marrom e puído, portando um crachá que dizia: José Matias – FAXINEX S/A.

3 comentários:

bella ferraro disse...

"FAXINEX S/A" : a última unidade linguística do conto e também a que desmancha tudo o que você tinha escrito antes (clima, pistas, argumento...), achei incrível.

Isabela disse...

acordei com vontade dos seus mistérios! fazia tempo que não te lia!

bella ferraro disse...

que saudade das suas postagens