quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O caminho do homem. O caminho do rato

“Um rato quando acuado pode se transformar em um tigre”

Gus escolheu o caminho do boxe quanto ainda era criança. Ele era apenas mais um garotinho mirrado que apanhava dos colegas da turma. Nessa época seu pai havia comprado um moderno vídeo-cassete e semanalmente alugava filmes para divertir a família. Em meio a tantos filmes, Gus assistiu um que falava sobre boxe, o “Touro Indomável”. Como era muito pequeno ele não entendera bem a história do filme, mas ficou vidrado pelas cenas de luta. Sentia o seu sangue ferver ao ver os lutadores trocando socos. A partir daí começou a juntar recortes de jornais e revistas sobre o assunto. Seu pai achava que era coisa passageira, mas quando Gus completou 14 anos fez seu pai o matricular em uma escola de boxe. Mas gostar de boxe é uma coisa, lutar é outra. O rapaz ainda sofria na mão dos colegas. Ele vivia se metendo em brigas, mas nunca revidava e sempre levava a pior. Achava que uma luta de verdade teria que ser travada em cima de um ringue. Isso é o que ele achava, mas no fundo sabia que tinha medo de enfrentar alguém. Mesmo assim, decidiu iniciar os treinamentos do boxe.
Passado dois anos ele ainda não subira no ringue, apenas socara sacos de pancadas e treinava a parte técnica, apesar dos protestos do treinador. Seu treinador reconhecia que Gus não era o tipo de pessoa que subiria em um ringue, dissera isso para o rapaz uma vez, mas mesmo assim ele quis continuar. “Minha vez vai chegar, estou apenas aguardando a hora certa”. Dizia ele. Seu treinador pensava para si, “um rato, mesmo treinado, não passa de um rato”.
Pouco tempo depois o inevitável aconteceu. Chegou o dia da primeira luta de Gus. Um rapaz apenas um ano mais velho que ele, que treinava em uma academia em outra cidade o desafiou para uma luta. Gus de início recusou, mas depois de muita conversa com o treinador e com seus pais ele voltou atrás e aceitou o desafio. Era a grande chance de ele mostrar seu aprendizado e se levava mesmo jeito para a coisa. Também era a única forma de superar seu medo.
O treinador de Gus conhecia o adversário. Seu nome era Murata, era descendente de japoneses. Ele até que tinha certa experiência em lutas e tinha uns bons socos. A vitória de Murata era quase certa. Dois dias antes da luta, Gus já começara a tremer.
Os dois subiram no ringue em uma noite chuvosa. As arquibancadas não estavam lotadas, apenas parentes, amigos e curiosos.
Soou o gongo.
Gus tremia, Murata socava. No primeiro round Gus não conseguia se controlar e não deu o menor sinal que ia acertar o adversário. Foi a lona duas vezes e já estava com a cara inchada quando soou novamente o gongo. Seu treinador estava com um sorriso irônico na cara. “Você é um rato”, disse ele, “se não consegue dar ao menos um soco porque resolveu lutar boxe?” Não se sabe a certo se essas palavras mexeram com ele ou se foi a chegada de alguma garota na arquibancada, mas nos dois próximos round Gus bateu igual gente grande. Murata foi ao chão no inicio do 4° round e não levantou mais.
Depois disso Gus desistiu do boxe. Ele finalmente percebera que não gostava de bater em alguém. Gostava mais de assistir ou de socar sacos de pancada. Futuramente viraria empresário de alguns boxeadores e ganharia muito dinheiro.
Um rato sabe como ganhar dinheiro.

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