sábado, 14 de fevereiro de 2009

Promoção: Reforme seu sofá e ganhe uma cadeira

Carlos Joaquim vivia em um sobradinho caindo aos pedaços no centro da cidade. De todas as incertezas de sua vida a maior foi abrir em sua garagem uma oficina de reforma de sofás. Seu já falecido avô trabalhou com reformas por alguns anos e passara para ele alguns macetes da profissão. Logo de cara recebeu em seu primeiro serviço o primeiro calote. Ele reformara uma velha poltrona trocando seu pano rasgado por um outro da cor vermelha e o dono não o pagou. Carlos Joaquim ficou com a poltrona para tentar vende-la, não conseguiu. O segundo serviço foi mais pesado, um conjunto de sofás de couro tinha que ser remendado.
Alguns meses se passaram e os negócios não iam tão mal, dinheiro não era curto, mas poderia ser melhor. O engraçado da profissão eram os objetos que ele encontrava dentro dos sofás. Muitas pessoas perdem coisas neles. Ele já havia encontrado moedas (claro), canetas, brinquedos, calcinhas, cd´s e até uma máquina fotográfica.
A vida de Carlos Joaquim mudou certo dia em que recebeu uma encomenda de uma velha senhora que levou um pequeno sofá para ele trocar o estofamento. A velha dizia que o sofá pertenceu ao seu filho, que foi morto a algum tempo baleado pelas costas. Ele geralmente ouvia a história dos sofás, essa parecia interessante. Ele aceitou o serviço normalmente. Tinha que terminar uns outros três trabalhos e em seguida pegou o sofá da velha para reformar. Ao tirar todo estofamento dele ele achou um grande pacote entre o madeiramento. Estava preso por várias voltas de fita adesiva. Cuidadosamente ele soltou o pacote, era pesado. Alguma coisa estava envolvida em um saco plástico enrolado em fita. Com um canivete ele rasgou o saco, um fino pó branco escoou para o chão. Ele pegou uma pitada e pos na língua, ela adormeceu com o contado. Cocaína, ele pensou, muita cocaína.
Certamente a velha desconhecia o fato de ter esse pacote escondido no sofá, ele poderia ter pertencido ao seu filho morto. Agora pertencia a Carlos Joaquim. Ele imediatamente fechou a loja e escondeu o material. Entregar á polícia poderia gerar complicações e dor de cabeça, também estava fora de cogitação devolver para a velha. Deixa escondido em sua casa era uma outra impossibilidade. Vender foi solução encontrada por ele. Carlos Joaquim não era bandido, mas também não era santo. Ele conhecia duas ou três pessoas que poderiam passar a cocaína para ele. Uma delas pelo menos ele sabia que era confiável. Foi o que fez.
E deu certo.
Deu tanto certo que Carlos Joaquim se interessou pelo ramo, ele pesquisou fornecedores, fez contatos e com o dinheiro ele comprou mais cocaína e fez o negócio crescer. Agora em sua garagem ele não só reformava sofás, mas também recheava-os de pó. Em épocas de vacas magras ele fazia uma promoção: compre 200 gramas e ganhe uma cadeira.

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