Estava tudo muito calmo naquela noite, não havia o costumeiro barulho do transito, das buzinas, das músicas em alto volume, dos transeuntes alvoroçados e dos bêbados cantores. Maria Clara voltava da faculdade naquela hora e estava cansada. Era a semana logo após o carnaval, a rotina voltara com tudo. O mesmo chefe chato, os mesmos professores chatos, mas pelo menos o transito estava ok. Ela chegou em sua pequena casa que dividia com mais duas amigas. Uma delas estava deitada no sofá assistindo a televisão e logo que avistou Maria Clara disse:
- Sua mãe passou de manhã por aqui, deixou um bolo e uma carta. Esta aqui ó. Veio para o seu antigo endereço.
Maria Clara pegou a carta e foi para seu quarto, guardou suas coisas e se sentou na banqueta da penteadeira. Estava com a carta na mão lendo o nome do remetente. Ela conhecia dois Henriques, mas nenhum era do tipo que mandava cartas e nem teria motivos para lhe escrever. Ela a abriu e começou a ler...
Maria Clara, minha paixão
Não se assuste, você me conhece muito pouco ou quase nada, mas mesmo assim posso dizer com certeza que você é minha paixão. Escrevo agora olhando para você. Sim você está ali. Seu jeito doce de dizer obrigado e seu sorriso me encantaram. Acendeu uma chama em meu peito. Você é tudo que eu vejo agora. Pode alguém apaixonar-se por isso? Por esses simples gestos? Pode sim, eu sou a prova disso. Não a prova viva, pois nessa hora eu já não estou mais aqui. Para onde vou? Não sei.
Eu disse para não se assustar, apenas leia e procure entender que meus sentimentos são sinceros e que não há mentira em nenhuma palavra minha.
Vou me apresentar formalmente, me chamo Henrique, mas já tive outros nomes. Nasci e vivi nessa mesma cidade, mas vivo em todos os lugares. Minha mente viaja. Em vida tive boa família e bons amigos. Confesso que já amei outras pessoas assim como te amo. Em meus 23 anos de vida conheci parte do mundo e parte do coração humano. Apesar da pouca idade já sinto que conheci o suficiente e me decidi partir direto para o fim, para o derradeiro mistério. Esta é uma carta de despedida, minha paixão.
Eu posso ser um covarde que me esconde atrás das palavras, sou uma pessoa melhor atrás de um papel. Mas não me importo, sou o que sou e “nos somos quem podemos ser”.
Me apaixonei por você em um dia chuvoso. Eu me abriguei em sua pequena loja de doces para me proteger da chuva. Troquei algumas palavras com você, comprei balas e chicletes apenas para tocar em sua mão. Seu nome descobri em outra ocasião, mas não acho necessário contar isso agora.
O que sinto agora é que quando chegamos ao fim desejamos de todo coração que as pessoas a nossa volta tenha uma vida boa, uma vida de alegrias. É o que desejo para você meu amor.
Amo-te, querida Maria Clara
Henrique
Depois de ler a carta, Maria Clara a releu. Foi até a sala onde agora estavam as duas amigas, companheiras de aluguel e mostrou a carta para elas. Acharam muito estranha e cogitaram até chamar a polícia. Depois pesquisaram nos jornais e na net sobre possíveis suicídios. Mas não encontraram nada. Meses depois já haviam esquecido o ocorrido. Maria Clara teve uma boa vida.
terça-feira, 3 de março de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário