quarta-feira, 4 de março de 2009

Meu nome é Defus, ando meio sumido, mas ainda calço o mesmo número de sapatos

Um tom cinzento preenchia o céu naquela manhã, não chovia, mas o ar estava úmido. Mesmo assim o centro da cidade estava normal, ou seja: cheio.
O jornaleiro da banca da praça da rua Barão estava carrancudo como sempre atrás do balcão, passava os olhos em uma revista de carros e ainda ficava de olho nos clientes. Ele gostava de sua capacidade de observar duas ou mais coisas ao mesmo tempo, via coisas demais e talvez por isso andasse tão carrancudo. Pode-se dizer que seus ouvidos não chegavam aos pés dos olhos, mas nesse momento ele ouvia um barulho de rolamento, possivelmente vindo de um skate, e seus ouvidos não se enganaram.
Defus não tinha pernas, elas foram cortadas pouco abaixo da cintura. Para se locomover ele tinha um skate, se apoiava nele com o tronco e o empurrava com as mãos. Claro que suas mãos era o que se podia chamar de judiadas, mas as esfoliações eram tantas que ele criara um bloqueio mental para a dor e persistia e insistia com seus nervos de que isso era natural, já fazia parte de sua vida. O centro da cidade era seu lar, muitos comerciantes, freqüentadores do centro, pastores, mendigos, debilitados mentais (que sentam em um banco na praça e cantam músicas do Raul Seixas), e vagabundos afins conheciam Defus. Inclusive o jornaleiro da banca da praça da rua Barão.
- Dia, seu Defus. – disse o jornaleiro observador e carrancudo.
- Bom dia.
- Vejo que voltou, você andou meio sumido, não?
Apesar de muita gente o conhecer, ninguém sabia onde Defus passava a noite e também ninguém nunca o viu comendo alguma coisa.
- Eu ando meio sumido, mas veja, ainda calço o mesmo número de sapatos. – Disse Defus.
- Ah, - Respondeu o jornaleiro.
Defus deu uma boa olhada na banca de jornais, pegou um jornal barato e pagou com um nota suja e amassada.
- Estou me despedido da cidade. – Disse Defus.
- Vai embora?
- Vou dar uma volta. Conhecer o mundo, sabe. Disseram que as venezuelanas são muito gostosas. – Disse Defus abrindo um sorriso e deixando a mostra seus poucos dentes amarelados e podres.
Depois saiu rastejando com o skate e nunca mais foi visto pelo carrancudo jornaleiro da banca da praça da rua Barão.

2 comentários:

Bruno disse...

Boa! Muito foda isso aqui!
Parabéns!
Legal esse Seu Defus. QUando crescer quero ser que nem ele!

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Valeu meu velho, seja bem vindo. Mas para isso se tornar foda eu ainda tenho que melhorar muito.

Abraço