sexta-feira, 8 de maio de 2009

5 dias e 7 horas

É isso, é o fim. Preciso me acostumar com a idéia. Se me acostumar, o sofrimento será menor. Preciso parar de me mexer também, se bem que não consigo fazer muita coisa mesmo. É estranho como minha mente está fervilhando apesar de meu corpo estar entrando em estado de inanição.
Como foi que eu vim parar aqui mesmo?
Há, foi há alguns dias, eu me lembro fácil agora. Já reconstitui minha pequena história várias vezes, mas sinto que essa será a ultima. Apenas a quantidade de tempo que estou nesse buraco não me lembro ao certo.
Começou assim:
Com uma vontade incrível de sair por aí a esmo e pensar na vida, peguei minha bike e fui dar uma pedalada na serra e, como de costume, fui sozinho. Passei pelas estradas conhecidas e tomei o caminho que passa por umas pastagens já próximas a cidade vizinha. Já estava pedalando há horas e estava bem distraído, nem vi quando um maldito cachorro parou bem na minha frente, só foi o tempo de me desviar e bater com a roda em uma vala e sair rolando pelo chão. Caí a uns cinco metros da bike, o cachorro desapareceu. Só ralei um pouco a perna e o cotovelo direito. Dei dois passos em direção a bike e o chão desabou. Foi um dos momentos mais apavorantes da minha vida, pareceu que eu caia por uma eternidade, esbarrando nas laterais e me machucando bastante, até que dei de encontro com o chão.
Fiquei desacordado por um tempo, não sei quanto, mas quando acordei estava tudo escuro. A primeira coisa que fiz foi tatear meu corpo para ver se tinha lesões, e tinha muitas, e o pior foi constatar que eu quebrara as duas pernas e parece que um braço. Eu não conseguia ficar de pé e nem mexer o braço direito. A segunda coisa que eu fiz foi ficar desesperado. Gritei por socorro por muito tempo, muito tempo mesmo. Até minha voz sumir completamente. Depois eu apaguei de novo.
Quando acordei estava mais calmo, procurei me situar e enxergar minha situação. Havia caído em um poço seco de uma fazenda qualquer. Esse poço era muito fundo, mal podia ver a pouca luz da abertura. Escalar era impossível. Não tinha comida nem água. Só me restava aguardar por ajuda. Alguém certamente veria minha bicicleta lá em cima e aí me acharia. Era o que eu pensava.
Acho que foi no terceiro dia que um terrível desespero se apossou de mim, a situação era insuportável. Eu arranhava a terra ao meu redor até meus dedos sangrarem. Eu tentava gritar, mas em vão. Eu estava faminto também, me lembro de tentar comer terra. Não deu certo. Eu chorava e chorava.
Não tenho muito mais o que lembrar, o tempo passava de forma desordenada e eu ali parado lamentando o terrível infortúnio que me metera. Foi azar eu não ter morrido na queda. Tentei imaginar alguma forma de me matar, mas não tinha coragem e nem muita força para isso.
A dor no corpo já não existe mais. Eu não sinto mais frio ou fome. Ainda, bem lá no fundo, tenho esperanças de que alguém apareça. Mas ainda estou aqui.

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