segunda-feira, 4 de maio de 2009

Lisboa

Há dias de calmaria nós estamos vivendo. Nem uma leve brisa sopra em nossos rostos carrancudos e agora um pouco preocupados. Os homens andam cambaleando de um lado para outro sem nada para fazer e não podem exagerar na bebida, pois não sabemos até quando ficaremos parados. O mar é belo nessa calmaria, mas é cruel. Como se fosse uma doce virgem escondendo uma agulha envenenada entre seus seios macios.
Rhimus Trades, um novato do mar, ficou louco essa manhã. Jurou que via tigres em todo canto querendo matá-lo. Sabia que nossa incursão a aquelas malditas florestas não nos faria bem. Tivemos que acorrentá-lo em um canto para que não se machucasse, mas a loucura aumentou, ele via as correntes se transformarem em serpentes. Os homens começaram a reclamar de seus gritos. O capitão teve que matá-lo. Ironicamente o capitão tinha um enorme tigre tatuado nas costas.
Mais alguns dias e as lamentações começaram a serem ouvidas. Os velhos lobos culpavam o destino, os mais novos achavam que era castigo divino. Diziam que não devíamos ter matado a tribo de selvagens que encontramos na selva. Eu penso que é só uma questão de sorte e azar. Sobrevivemos um dia, morreremos em outro. Nessas horas de pesares me vem a cabeça a imagem de Lisboa.
A velha Lisboa estava longe ainda, meses à frente. Nosso navio também se chamava LISBOA, talvez isso nos faça sentir mais saudades da terra natal, dos vinhos, das danças, das aventuras nos pomares. Os antigos portos, as antigas casas de cabarés, os mercados abarrotados; tínhamos vários prazeres. Mas hoje nós só temos a calmaria.

2 comentários:

Ana Karenina disse...

Nostalgia em meio à agonia.
Belo.


Beijos, rapaz.

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Obrigado Nina...
É bom estar de volta :)