terça-feira, 9 de junho de 2009

Deborah

E eis que finalmente surge um pequeno ponto de luz no fim do túnel, onde o breu total engolia as paredes, o chão e todo resto. Era certo que o chão estava coberto de cascalho, pois podia ouvi-los em seus passos vagarosos. Não ousava tocar nas paredes. O ar era abafado, como se tivesse sido sugado por poderosas máquinas. Já se passara uma eternidade que ele caminhava, e a sensação de medo nunca o abandonou. A grande impressão que sentia desde o começo era que algo grande, profundo e denso o seguia, podia ouvir sua pesada respiração e seu arrastar pelo chão. Mas tudo podia ser uma ilusão, podia ser que fosse seu próprio eco a retumbar pelas paredes. Vezes ou outras ele podia ouvir o barulho de água a rolar entre as pedras, o que deixava sua boca mais seca do que já estava. O sentimento de vazio e solidão era tão grande que ele nem lembrava mais de seu nome, de sua vida. Estava andando por puro instinto, mas se lembrava de uma coisa, um nome: Deborah. Não lhe vinha à mente a quem esse nome pertencia, nem seu grau de importância, mas ele tinha a certeza de que não poderia esquecê-lo. E então veio a luz, começou com um ponto minúsculo e foi se abrindo. Uma coisa chamada esperança voltou a aflorar em sua mente. O monstro que o seguia foi-se embora. Ele chegou à boca do túnel, a luz branca irradiante cegou seus olhos. Ele, como nunca, pensou em Deborah.
- Ele está acordando.
- Confira a pressão.
- Seus batimentos cardíacos estão normais.
- Ele está acordando.
- Fale com ele.
- Você está me ouvindo? Consegue me entender?
- ...
- Ele não responde.
- É normal para quem passou três anos em coma não se lembrar de muita coisa, inclusive da fala.
- Espere, parece que ele está murmurando algo.
- ...
- Parece que está dizendo, Deborah.
- Chame-o pelo nome.
- Henrique, bem vindo a vida.

2 comentários:

Debieeee disse...

O final de um começo feliz :)

Mateus Henrique Zanelatti disse...

O começo de um novo começo, que no final (ou o começo) foi feliz ::D