terça-feira, 23 de junho de 2009

A mão branca da escuridão

Se por um lado o virtuosismo que ele ganhou nas mãos o fez uns dos melhores, por outro uma artrite violenta, que lhe ocorreu seis meses depois, o impossibilitou de tocar para o resto de sua vida. Mas foram seis meses ótimos.
Conhecemos o cara em um hotel de quinta em Nova Orleans, no ano de 1956. Ele estava completamente largado em uma mesa no imundo, porem acolhedor, bar do hotel. Sentamos na mesa ao lado, ele estava acompanhado por uns sujeitos estranhos, pedimos nossas cervejas e aguardamos os sujeitos partirem. Pouco depois eles se foram e nós fomos sentar com o cara. Estávamos frente a frente com o sujeito que foi considerado melhor saxofonista do mundo.
Pagamos uma bebida para ele, jogamos um pouco de conversa fora e logo em seguida começamos a fazer as perguntas, afinal éramos jornalistas recém formados e estávamos atrás de uma boa matéria.
Ele estava bem chapado, de bom humor e não se ofendeu quando perguntamos se de fato havia vendido sua alma para o diabo em troca de habilidades. Respondeu que isso era coisa de guitarristas de blues, e que os verdadeiros músicos de jazz eram o próprio diabo. Perguntei como estava sua mão podre, ele me mostrou o dedo do meio e disse que ainda conseguia fazer aquilo. Sua pele negra se enrugou toda em um riso e seus dentes amarelos saltaram para fora, rimos bastante naquela hora.
Pendurado em seu pescoço havia um colar de ossos, não sei de que animal. Me interessei por ele e perguntei o motivo do colar. Ele disse que pertencia a uma antiga seita africana, a qual participava. Algumas de suas músicas foram inspiradas nela, boas músicas. Mas soubemos depois que essa seita era de magia negra, e que havia sacrifícios humanos inclusos em seus rituais e que anos depois o próprio “melhor saxofonista do mundo” foi degolado e destroçado em um desses rituais. Suas músicas foram retiradas do mercado e proibidas, pois houve casos que pessoas se suicidaram após ouvi-las.
Eu consegui guardar alguma coisa dele, realmente sente-se alguma coisa estranha no ar quando ouvimos suas notas ribombarem nos falantes. De fato, eles são o próprio diabo.

2 comentários:

Ana Karenina disse...

Das duas uma: Ou ser o melhor não é coisa que se queira, daí Deus não quer saber de acordo quanto à isso. Ou então, essa habilidade deve ser o pulo-do-gato do diabo.

Texto do caramba!
Tá inspirado, hein?!

Beijos.

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Pois é... rock´n´roll.
Sinceramente não gostei desse texto, comecei com o título, depois fui escrevendo pensando em uma coisa e acabou saindo outra. E era para o cara tocar trompete, e não saxofone. Mas legal você ter gostado Ana.

Beijão