quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Perfeita simetria

Chovia intensamente na floresta, as folhas eram castigadas pelas grossas gotas d’água, o solo absorvia tudo com uma sede imensa. Algumas árvores fracas cediam, causando enorme estrondo na queda.
Os pássaros se escondiam do melhor jeito que convinha, empoleirados e encolhidos entre os galhos.
Quanto a mim, eu aguardava.
Alguns animais se tornam desatentos aos predadores nessas horas de chuva, eu sabia disso e estava a espreita. Sou um caçador, um assassino nato. Garanto que mato só para comer, mas tenho prazer nisso, me delicio ao encurralar a pobre presa e ver o medo profundo em seus olhos. Meus músculos se excitam no ato de eu encravar minhas garras na carne alheia, carne essa que rasgo e mastigo com poderosos dentes. Eu sou perfeita simetria, eu sou um tigre.
Trovões retumbam pelos céus, raios cortam os ventos apresentando fabuloso espetáculo. Meus olhos brilham diante da selvageria da chuva.
Ouço um barulho, passos leves, respiração ofegante, uma presa média se aproxima. Uma sensação de prazer percorre meu corpo. Eu espero e salto no momento certo.
No meio do ar eu à avisto. Um espanto gigantesco me faz girar no ar e desviar da criatura, eu caio no chão a poucos metros dela.
Um humano, fêmea. Eu sei reconhecer os humanos, eu os odeio, é verdade, eu os ataco. Mas o que aconteceu comigo? Porque fiquei paralisado? Eu a observo, ela está parada, não se meche nem um centímetro, mas está calma, eu sinto isso. Talvez seja sua tranqüilidade que me incomoda.
Eu olho em seus olhos, eles são maravilhosos, são grandes, escuros, parecem jabuticabas, me encaram de forma formidável. Observo todo o resto, sua pele muito branca, cor de marfim, suas curvas perfeitas e seus cabelos cor de sol. As gotas de chuva percorrem seu corpo como um sonho.
O som do trovão percorre os céus, invade minha cabeça, ouço e vejo tudo com clareza. Um sinal dos deuses da floresta. Isso é um sinal.
Eu encho meus pulmões com todo o ar a minha volta, meu rugido sai e sobrepõe todos os outros sons da natureza, tudo se cala ao meu redor. Eu olho a fêmea mais uma vez, dou-lhe as costa e desapareço, talvez para sempre, floresta adentro.

4 comentários:

Debiie disse...

Da vontade de não parar mais de ler...

Camila Fontenele disse...

Seus contos são fantasticos!

(vou esperar a cerveja.. HAHA)

Larissa Lins disse...

Paga mesmo uma cerveja? HAHA

Me senti na floresta, observando você, enquanto observava suas potenciais presas. E achei fascinante a forma como a fêmea o paralisou, do alto de toda a sua fúria e determinção. Gostei muito.

Marguerita disse...

Tu ia ficar um charme de meia-calça vintage!

;)

hehehehhehe

Bjs
Ótimo domingo pra ti!