terça-feira, 19 de outubro de 2010

O trem

O barulho de passos chapinhando na água me trouxe de volta a realidade; era ELA, era Bella.
No banco em que eu sentava, a umidade havia tomado conta da madeira, mas eu não me importava. O que acontecia a minha volta, as pessoas passando com pressa, o barulho do trem, a chuva que caía, não me importava. Eu estava na ponta da prancha, absorto pelo horizonte reto, perfeito, extremamente perpendicular ao céu de azul impecável. Tão absorto que estava prestes a cair em meio aos tubarões, para ser dilacerado por presas poderosas.
Ao meu lado, um mendigo maltrapilho esmolava, estendendo sua mão enrugada até quase alcançar o teto da estação, mas as pombas doentes não lhe davam moedas.
Estranho, imagine, eu percebia tudo o que acontecia por ali, só não participava desse mundo, estava apenas como se fosse um observador imparcial.
Mais um trem. Mais pessoas devorando pessoas. O cheiro de óleo queimado. As poças de água no chão aumentando devido a chuva forte. Eu só tinha que esperar, tinha que ter esperança; e isso eu tinha.
E então, depois de ouvir mais um estrondo de trovão, depois de ouvir mais um trem chegar e partir, depois de ouvir mais um pensamento ecoar, eu ouvi o barulho de passos chapinhando na água. Era ELA, era Bella.

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