terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cadeira, cama e janela

Algumas vezes eles colocavam sedativos na comida para que eu dormisse, mas depois de alguns meses eu já conseguia perceber quando a comida estava alterada e me recusava a comer. Então eles instalaram tubos em meu quarto por onde saia um gás que me adormecia, só que eu descobri com o tempo a localização deles e os obstruía. Por fim, depois de alguns anos eles simplesmente entravam em meu quarto, que na realidade era uma prisão, em três ou quatro brutamontes, me seguravam e aplicavam uma injeção.
Toda vez que eu acordava, depois de ser dopado, eu estava sentado em uma cadeira parafusada ao chão com meus pés e mãos amarrados firmemente. À minha frente ficava uma cama com um lençol vermelho e em cima da cama uma mulher; toda vez uma mulher diferente. Não sei se eram prostitutas, atrizes contratadas ou mesmo mulheres fazendo isso apenas por diversão, nunca soube da verdade.
Enquanto eu estava amarrado, a mulher começava a se despir vagarosamente, em movimentos sensuais, elas geralmente vestiam roupas justas com decotes enormes e minissaias, exibindo seus belos seios e coxas bem servidas de carne. Por baixo usavam lingeries ousadas de diversas cores e estilos. Depois de toda roupa tirada elas começavam a se masturbar, cada uma a sua maneira e posição. Umas começavam a acariciar os peitos e depois desciam vagarosamente para suas vaginas e em movimentos contínuos da mão gemiam de prazer até se esbaldarem, outras chupavam os próprios dedos enquanto brincavam com o clitóris, algumas até trocavam as mãos pelos pés para se acariciarem. Isso tudo durava de quinze minutas a meia hora. Mas nesse meio tempo todas me ignoravam por completo, nenhuma nunca me olhou nos olhos ou falou comigo, como se eu não estivesse ali, agiam como se fosse normal se masturbar na frente de um estranho amarrado em uma cadeira.
Na primeira vez que isso aconteceu, quando acordei nessa situação, fiquei confuso, com medo, não sabia o que ia acontecer, eu achava que a mulher ia me matar ao final de toda a encenação, achava que era um jogo sádico em que eu acabava sendo estripado no fim. Mas nada aconteceu. Quando a mulher terminou seu serviço, ela simplesmente se vestiu e saiu por uma porta a direita, por onde depois entraram três ou quatro brutamontes para me desamarrar e arrastar por uma porta a esquerda, de volta a prisão do meu quarto. No início, quando isso começou a se repetir, eu tentava de todas as maneiras falar com elas, pedia ajuda, explicava a minha situação de prisioneiro, perguntava o porque de eu ter sido preso e estar acontecendo tudo isso, mas elas simplesmente me ignoravam. Eu berrava e chorava, tentava ser humilde, tentava ser odioso, tentava ser generoso oferecendo dinheiro para me tirar dali ou mesmo para que me dissessem uma única palavra, mas elas sempre me ignoravam.
Depois de algum tempo percebi que essa cena se repetia em intervalos irregulares, talvez para que eu não pudesse estar preparando alguma coisa, para que eu não estivesse planejando nada fora do plano bizarro deles. Quando eu achava que acabaram as seções, lá vinham eles com a comida com sonífero, com o gás ou com a injeção.
Por um período de tempo, após desistir de tentar me comunicar com elas e perder a esperança de sair dessa situação, eu comecei a ficar excitado ao vê-las gemendo de prazer na minha frente, comecei a deseja-las, comecei a salivar e babar, meu pênis ficava tão rígido que quase rasgava minhas calças, comecei a torcer para que a próxima seção começasse o mais breve possível; e comecei a perder minha sanidade nesta época.
Perdi a conta dos anos que se passaram na minha prisão, talvez foram apenas quatro, cinco ou seis, mas pode ser que sejam dez ou até mesmo doze. A rotina sempre era a mesma, refeição a cada três horas durante o dia, dez horas de sono durante a noite, toneladas de livros e revistas antigas para ler, uma televisão que passava um filme por dia, escolhido por eles, um quarto com um banheiro e sem janelas e as seções das mulheres se masturbando.
Com o passar do tempo minha excitação pelas mulheres foi diminuindo e eu comecei a xingá-las e ofendê-las, não ia mais sangue para o meu pênis, o sangue ia direto para meu cérebro e eu ficava com raiva, eu tremia de raiva ao vê-las todas com as mãos molhadas mexendo suas genitais. Incontrolavelmente eu me debatia na cadeira urrando palavras cruéis e cuspindo injúrias as suas vaginas.
Depois minha raiva se tornou um ódio silencioso, que crescia de forma descomunal, eu me transformei em puro ódio.
Eles sabiam o que me tornei, pois num dia em que acordei na cadeira, percebi que não estava preso, e percebi que meu único instinto era me levantar da cadeira e estrangular a mulher que estava na minha frente. Foi o que eu fiz, e foi a única vez que a mulher da cama olhou para mim; claro que com olhos de desespero. Desde o início esse era o plano deles.
Na próxima vez que acordei, percebi que estava em um quarto diferente, era bem maior que minha prisão, havia mais móveis, um rádio, cama imensa e uma janela. Olhei por ela e o sol me cegou por uns instantes, há anos não sentia tanta luz e calor sobre mim. Eu estava confuso, mas percebi que estava em um quarto de apartamento, pois pela janela eu via a rua a muitos metros abaixo. De repente comecei a ouvir a porta sendo destrancada e por ela entrou uma mulher, já de meia idade. Imediatamente minha cabeça ficou pesada e meus olhos ficaram cegos, senti meu sangue fluir efervescente por todo meu corpo. A mulher estava confusa, tentava dizer e gritar comigo alguma coisa enquanto eu me aproximava dela como um maníaco. Eu agarrei seu pescoço e a levei ao chão, ela se debatia e tentava me arranhar até que começou a ficar roxa e com os olhos esbugalhados, então senti seus ossos se quebrarem em minhas mãos e ela parou de se mexer.
Eu me afastei e sentei na beirada da cama, ofegante, e estando ali alguma lucidez começou a voltar à minha cabeça, eu olhei para a mulher morta e comecei a reconhece-la de um passado distante, comecei a ficar realmente desesperado quando percebi que ela havia falado meu nome, antes de eu estrangula-la, e fiquei em choque quando descobri que havia matado minha própria esposa. Esse era o plano afinal, eu matar minha própria esposa, matar a única pessoa no mundo que eu realmente amava, a mulher que eu daria minha vida em troca. Eu paguei por um pecado antigo tirando a vida da minha única razão de viver. A dor que eu sentia nesse momento era algo imensurável, algo que eu não podia suportar. Com o pouco de força que me restava levantei e me arrastei até a janela, consegui abri-la e num impulso saltei para fora, e enquanto caia pensava que essa morte era boa demais para uma pessoa como eu.

Levemente baseado em: http://www.youtube.com/watch?v=2HkjrJ6IK5E
e em: http://www.youtube.com/watch?v=Tcl2hnhze3E

3 comentários:

bella ferraro disse...

Um de seus contos mais longos :)
Oldboy é um desses filmes que sempre quis ver, mas nunca o fiz.

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Vale a pena.

mdf disse...

Parabéns pela estrutura e todo conteúdo do blog!
Muito interessante.
Forte abraço.
(artesanato em mdf)
Faça-nos uma visita quando puder www.centralcaixas.com.