quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ste Môo

A cada passo um pedaço da sua vida era excluído, iam ficando para trás retratos de sua infância, lembranças de seus pais e irmãos. Tudo se tornou muito vago em sua mente, exceto sua meta: sair vivo do maldito deserto.
Ste Môo lembrava vagamente como fora parar nessa situação, mas agora não importava mais, viver era seu único objetivo e deixar sua mente ocupada com pensamentos inúteis não era saudável sob o sol forte. Ele andava afundando os pés na areia, mas com passos firmes de soldado, usara sua camisa para enrolar sobre a cabeça uma espécie de turbante para se proteger da insolação.
Pendurado em sua cintura estava uma bolsa de couro com alguns mililitros de água, que ele não ousava tocá-la até que a situação fosse extrema.
O deserto:
O deserto era, apesar de tudo, de uma beleza inestimável. A areia vermelha formava dunas suaves com curvas delineadas como um corpo de mulher. O vento fazia dançar a areia uma dança de serpente. Na linha do horizonte não havia montanhas, não havia nada. Era como se o grande abismo do fim do mundo engolisse toda a fronteira do deserto.
O avião:
Ste Môo ouviu um barulho de motor tão conhecido que todos seus sentidos voltaram a tona em um instante. Era um avião, e pelas suas cores e estilo era dos Aliados. Ele sem desespero algum levantou seus braços e começou a agitá-los. O avião passou sobre ele, sem dar sinais que o avistara, Ste Môo se virou para acompanhar sua trajetória. A primeira pontada de pânico se instalou em sua garganta e seus olhos se encheram de lágrimas. Mas sim, o avião o avistara e fez as manobras de retorno.
Ste Môo estava salvo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tira n° 1 - Fatos da semana



Olá! Tudo bem? Sim, ótimo, ótimo.

Hoje estreia mais uma "coisa" aqui no blog, TIRAS! E feitas por mim! Elas são mal desenhadas, mal escritas e tem um letreiramento péssimo, mas são minhas... e terão mais! E além de tudo são em preto e branco (com "arte finalização" em nanquin) que além de eu preferir nessas cores é muito mais fácil de desenhar ;;)

Grande abraço!

ps - Clique na imagem para enxergar melhor.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O observador lunar

1969, o observador sente a presença do primeiro objeto com tripulação vindo do planeta Terra.
Rapidamente ele calcula sua trajetória e toma dados de sua situação. É uma nave de exploração, conclui ele.
O observador move sua cabeça cavalar para o lado escuro da lua, agita suas asas e com um impulso de suas pernas mecânicas ele toma vôo. Não voa como as aves da Terra, não daria sem atmosfera, mas ele usa de complexos sistemas de propulsão além da imaginação do homem.
Ele pousa em um campo onde sua presença não será percebida pela nave terrestre.
No meio da escuridão, apenas seus olhos vermelhos destacam-se.
Sua mente robotizada calcula quanto tempo levou para o homem finalmente chegar a lua, ele observava o planeta deste o tempo em que as primeiras bactérias foram implantadas nos mares antigos. Não é um número tão alto quanto sua própria idade, nem mesmo chega aos pés da idade do universo.
Mas para o observador esse é o dia mais importante de sua longa vida mecânica. E também conclui que é o dia mais importante da vida dos três homens a bordo da nave. A vida vale a pena.
O homem chegou à lua.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A infância do Dragão

Uma vez, um certo menino de rua roubou um pão. Estava com fome. Deu-se que o padeiro o pegou em flagrante de deu-lhe uma tremenda surra, mas para a surpresa do menino o padeiro deixou que ele ficasse com o pão.
– Escuta aqui, seu merdinha filho da puta. – Disse o padeiro. Fica com esse pão e bota uma coisa na cabeça, se você quer alguma coisa, vá lá e pegue! Mas, se tiver que roubar, não deixe que o peguem. Se tiver que matar, não deixe suas mãos sujas. Se você quiser ser mau, seja! Se você quiser ser bom, melhor! Agora dá o fora daqui, seu vagabundo de merda!
Apesar da pouca idade, o menino guardou em sua memória o que o padeiro disse e essa foi a primeira lição que aprendeu.
Anos depois o menino, já crescido, se tornou um assassino famoso no submundo, conhecido como Frank, o Dragão.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Uma virtude: Paciência

- É esse aqui, esse mesmo.
- Esse o que?
- Esse disco, tava procurando faz tempo.
- O que tem ele?
- É a trilha sonora da minha vida.
- Ah, como chama?
- Kind of Blue, do Miles Davis.
- Não conheço. O que ele tem de bom?
- Música, oras! Boas músicas.
- Ta bom, mas que tipo de músicas?
- Jazz, chuchu. O bom e velho jazz.
- Ah, mas vai dizer que você gosta disso?
- Claro que gosto!
- Mas jazz não é musica de velho?
- Não, não é!
- Sei não, nunca vi você escutando esse tipo de musica. Vai comprar o cd?
- Não é cd, é disco de vinil.
- Mas você nem tem toca disco, vai ouvir onde?
- Não importa, vou comprar e guardar.
- Mas você já tem tanta coisa que não usa. Por que não compra um cd?
- Porque jazz de verdade tem que ser ouvido ao vivo, ou em vinil.
- E porque essa frescura?
- Frescura!? Que frescura!? Você é que não sabe de nada.
- Só sei que você vai comprar isso e nunca vai ouvir. Não é?
- E se for? O que é que tem?
- Nada, só acho que é desperdício de dinheiro. Podemos ir agora?
- Vamos logo, vou pagar e já volto!
- Mas porque todo esse nervosismo?
- Nervosismo!? Imagina!? EU!? NERVOSO!?

Pouco tempo depois...

- Já pagou? Onde está o cd?
- É DISCO! DISCO!
- Tudo bem, disssssco. Mas onde está o disco?
- Acabei não comprando, você me deixou sem vontade de comprar.
- Sério, mas porque?
- Ah, deixa para lá!
- Eu te deixei nervoso só por causa do disco, não é?
- NÃO!
- Ok, podemos almoçar agora?
- Sim, estou faminto.
- Onde vamos comer?
- Por mim pode ser em qualquer lugar.
- Qualquer lugar mesmo?
- Sim pode ser.
- Então eu posso escolher?
- Pode.
- Mas você sempre escolhe, por que isso agora?
- Porque eu quero que você escolha!
- Ok, vou escolher então, mas você vai aceitar?
- SIM!
- Certo, podemos comer no Mac?
- Ah, sabia que ia escolher esse. Você sabe que eu odeio o Mac!
- Não sabia não, porque você não gosta de lá?
- Eu já te disse que esses fast foods americanos são um lixo!
- Disse sim, mas não especificou qual, não é?
- É, não mesmo, mas é lógico que o Mac tava incluso.
- Porque é lógico? Qual a lógica nisso?
- O MAC NÃO É UM DOS PRINCIPAIS FAST FOOD AMERICANO?
- Não sei, não ligo muito para essas coisas, só penso em comer e pronto. Então, onde vamos comer?
- JÁ DISSE QUE VOCÊ ESCOLHE!
- No Mac você não vai, certo?
- CERTO!
- Ok, que tal um hambúrguer no King então?
- O QUE? Você só pode estar brincando.
- Qual o problema?
- O KING TAMBÉM É AMERICANO!
- Ah, verdade. Esqueci. Então não sei onde vamos, o que você sugere?
- JÁ DISSE QUE VOCÊ ESCOLHE! PORRA!
- Credo, que bravo. Vamos comer uma lasanha no Tito Legal então. Pode ser?
- PODE!
- Mas ainda acho que você está todo nervozinho só por que não comprou aquele cd do Milo Dove.

Devemos tentar entender alguns assassinos antes de condená-los...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

50 contos!


Mar amigo

— Ta gostando, Jacinto?
Jacinto olha pela janela, o corpo todo voltado para ela. Faz que sim com a cabeça. Os olhos andam e andam, extasiados com a beleza das estradas.
— Você vai ver só que coisa linda é o mar, Jacinto.
E ele sorri. A coisa que mais espera é o mar. O sono não veio na noite passada, só pensava em mar.
— O mar é grande?
— Já disse que sim. Mas carece de ter medo não, viu?! É só ficar na beiradinha.
Ele pôs-se a pensar em como seria a beiradinha do mar. Uma raposa passou correndo e o mar se perdeu no pensamento. A raposa no alto da colina, encarando Jacinto. Jacinto encarando a raposa.
— Raposa, vem comigo ver o mar. — A raposa nada disse. Saiu correndo mundo afora.
— Vem, Jacinto. A praia.
Os pés pisaram na areia quente, um susto! Um grito!
— Cuidado, menino. Põe o chinelo.
Jacinto vê um par de bunda despontando no seu caminho.
— Olha só, mãe, a moça pelada.
— Menino, venha embora.
As moças acham graça da bobagem de Jacinto, acham graça da burrice e da cara de Jacinto. Jacinto ri para as moças.
— Olha só, Jacinto.
Olha só ele. Ele ta ali. Jacinto fica como estátua, olhando, olhando. Quase não pode acreditar. O mar é lindo mesmo. Parece um velho, com uma barba que balança. Tão calmo, as ondas parecem a respiração do mar. Ele respira e expira, respira e expira. Como é bom o mar.
— E tem peixe aí dentro?
— Tem.
— E lula?
— Tem.
— E tem tubarão?
— Tubarão não.
— Que bom.
Jacinto toca o mar. O mar é tímido, se esquiva. Ele insiste e o mar se entrega. O mar é engraçado. E que água salgadinha que ele tem.
— Jacinto, não vá pra longe.
E por que não? Não seria bom ir mais pra dentro, entrar no mar. Seria sim, seria um sonho. Jacinto tem medo, mas tem vontade. O mar é lindo. Só mais um pouquinho. Jacinto avança, o mar chamando. O mar lhe dá uma tapa. Mas que danado! Jacinto revida, o mar faz de novo.
— Olhe, assim não! — Grita, irritado. O mar se acalma. Jacinto emburrado, senta na areia molhada.
— Você é mal, mar. O mar não responde. Vem devagarzinho e faz carinhos nos pés do menino, sopra no seu ouvido, joga no seu rosto respingos de sal e água. Quer fazer as pazes. Jacinto sorri. Está apaixonado. O mar chamando, chamando. Jacinto vai, aceita as desculpas.
— Jacinto, vamos! Já é hora.
Jacinto chora, não quer. A mãe insiste e ameaça. Com uma pedra no coração, o menino abraça o mar mais uma vez. O mar o beija, o acarinha. O mar também é seu amigo.
— Amo você, mar.
O mar sorri e balança a sua barba branca na sua respiração solene e pausada.

Ana Karenina, 06/2009
Para mais contos visitem: http://acrossalltheuniverse.blogspot.com/

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Reflexos de um sonho

Acordei assustado, suando frio, procurando por algo que no íntimo sabia que não estava ali. Relaxei um pouco, foi apenas mais um sonho, um estranho sonho que vem se repetindo há alguns dias. Isso me deixa um pouco preocupado. Levanto, visto minhas calças e camisa, sei que se continuar deitado o sono vai demorar a chegar. São duas horas da madrugada, olho pela janela, vejo uma noite agradável lá fora. Acordo meu cachorro labrador e com uma disposição canina ele me acompanha em uma caminhada pelas ruas.
Penso em meu sonho. Nele estou sozinho em meio a um grande deserto, desesperado procurando por abrigo e água; ando a passos rápidos, ora tropeçando em algum galho seco enterrado na areia escaldante. Cada vez mais desolado continuo caminhando, pois sei que se parar será o fim. Encontro mais alguns galhos pelo caminho e alguma ossadas de animais, isso me faz pensar que outrora esse deserto fora uma floresta. Imagino, em meu sonho, essa floresta com árvores tão altas que quase alcançam as nuvens, regatos de águas límpidas que saciam a sede dos habitantes, vales cheios de vida, animais e plantas tão exóticos que nos enchem os olhos com suas cores vibrantes. Nesse momento volto ao deserto e caio de joelhos, meu coração me diz que o mundo inteiro se transformou nessa desolação de areia, não existem mais florestas, campos e vales verdes, tudo se foi, e a culpa foi minha. É nesse momento que acordo.
Nunca pensei seriamente nessa questão do meio ambiente. Claro que faço minha parte, separando o lixo reciclável, não jogando produtos químicos em qualquer lugar, nunca cortei uma árvore ou matei algum animal. Quanto às questões maiores, como o desmatamento, por exemplo, sempre achei que era da competência dos governantes, os quais sempre critico, porque o que se vê nos telejornais é que a degradação do meio ambiente sempre aumenta. Mas ora, será que adianta ficar apenas criticando e nada mais? Será que não posso fazer algo mais do que só a “minha parte”?
A rua está vazia a essa hora, vez ou outra passa um carro acelerado, a cidade está adormecida. Mas eu estou abalado, continuo caminhando e pensando nas coisas ruins que acorrem ao nosso planeta. Tanta poluição, acúmulo de lixo, vazamentos de óleo no mar, extinção das espécies, desmatamento. Há quanto tempo isso vem ocorrendo? Acho que há décadas, e aumenta cada vez mais.
Lembro que outro dia li um artigo que falava a respeito de uma reunião entre os países mais poluidores para resolverem esse problema degradante e, nessa reunião, alguns países deixaram bem claro que até o ano de 2050 suas indústrias não poluirão mais. Só que até então, penso eu, esse ano continuaremos respirando sua fumaça. O planeta irá agüentar até esse longínquo ano? Eu não gostaria de viver em um deserto escaldante como o do meu sonho. Já decidi. Amanhã mesmo vou entrar em contato com algumas ong´s e empresas especializadas para me informar sobre o que eu posso fazer para ajudar meu planeta. Com certeza há alguma coisa a ser feita por nós em pró ao meio ambiente.
Meu labrador mostra sinais de cansaço, pobrezinho, eu o fiz caminhar demais. Volto para minha casa e minha cama. E com a consciência tranqüila volto a dormir, sem sonhos.


Nota: Escrevi este texto para um concurso de crônicas, obviamente não ganhei. ::)